Tribuna da Bahia: Thiago Pereira
Evitar sacar grandes quantias e sempre ficar atento à movimentação dentro e fora dos bancos. Esses são os principais conselhos para evitar a, cada vez mais frequente, saidinha bancária, modalidade de assalto que tem como vítimas pessoas que deixam os bancos carregando grandes quantias de dinheiro.
“As pessoas devem minimizar a prática da transferência em espécie e também os saques altos, porque eles chamam a atenção dos criminosos especializados nessa prática”, afirmou o delegado titular da Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos (DRFR), Nilton Tormes.
O delegado explicou ainda que não existe um dado exato da quantidade de saidinhas bancárias que acontecem por mês em Salvador, já que a modalidade é classificada como roubo qualificado (quando o assalto é realizado a mão armada).
Pedir ajuda a estranhos também é um fator de risco quando se trata de movimentação financeira.
O mais recomendado é solicitar auxílio a funcionários da agência bancária. Em casos em que o saque de grandes quantias é extremamente necessário, deve-se retirar o dinheiro diretamente da mesa do gerente, em local que não seja visível a estranhos.
Outra orientação é a de dividir a quantia pelos bolsos. Notar se há pessoas de atitude suspeita dentro do banco também é aconselhável. Alguns criminosos ficam nas agências simulando pagar uma conta e deixam o estabelecimento assim que notam que algum cliente fez um saque elevado.
“Alguns assaltantes ficam na fila com um boleto bancário a espera de alguém que vá retirar grandes quantias em dinheiro. Assim que percebem uma vítima em potencial, eles saem e avisam os comparsas, que esperam do lado de fora”, esclareceu o delegado.
Deve-se também evitar contar o dinheiro na porta das agências bancárias, assim como fazer os mesmos trajetos ao sair. Muitas vezes, as pessoas deixam o banco e vão direto para o carro, quando deveriam entrar em alguma loja perto, como forma de despistar, e também de observar se estão sendo seguidas.
Em Salvador, as saidinhas bancárias ocorrem, geralmente, em regiões de grande concentração de bancos. Por vezes, no entanto, os criminosos seguem as vítimas até áreas de menor movimento para praticar o crime. Em qualquer um dos casos, o indicado é não reagir. No último dia 14, a enfermeira Priscila Ferraz, de 24 anos, relutou em entregar R$ 5,6 mil que havia acabado de sacar de uma agência bancária. Em resposta, os assaltantes atiraram duas vezes. Por sorte, os disparos falharam e a enfermeira saiu ilesa.
No caso do baterista Paulo César Perrone Souza, a história teve um final diferente. O músico foi baleado na cabeça na última terça-feira, em ação criminosa que a polícia suspeita também ter sido uma saidinha bancária.
Os investigadores encontraram no local do crime um envelope do Banco do Brasil vazio, com o nome da mãe da vítima escrito, caído do lado de fora do veículo. Os outros pertences de Perrone, como equipamentos eletrônicos, foram ignorados pelos assaltantes. Os policiais acreditam que ele reagiu ao assalto.
Plano de segurança
Cabe ressaltar que, considerando que os bancos possuem rede de atendimento instalada em todos os mais de 5 mil municípios brasileiros, há necessidade de legislação regulando a matéria de modo uniforme, para que sejam adotadas soluções sistêmicas em todo o País, a exemplo da Lei Federal nº 7.102/83 e sua regulamentação.
Nos termos dessa legislação, todos os estabelecimentos bancários (agências e postos de atendimento) são obrigados a submeter à Polícia Federal um plano de segurança para que possam funcionar. Esse plano de segurança é elaborado por equipes técnicas e profissionais que analisam todas as características de cada ponto de atendimento – tais como localização, fluxo de pessoas, layout da agência, etc.
Aprovado o plano, são instalados todos os equipamentos de segurança e mobiliário da agência, como os caixas, os caixas eletrônicos, o posicionamento das câmeras de segurança, dos vigilantes, as portas de segurança, a depender do caso, etc. Sendo assim, todo o plano de segurança é elaborado de modo a que a agência não possua qualquer obstáculo que impeça uma visualização completa da área.
Portas Giratórias - A segurança bancária é regulada pela já mencionada lei federal 7.102/83. Por essa legislação, todo estabelecimento financeiro deve ter plano de segurança aprovado pelo Ministério da Justiça, composto por vigilância armada, sistema de alarme e no mínimo um entre outros dispositivos mecânicos ou eletrônicos de segurança, tais como cabine blindada, porta de segurança com detectores de metais, fechadura eletrônica programável com retardo de tempo para abertura do cofre, etc.
Circuito fechado de TV - O circuito fechado de TV (CFTV) é um item previsto na lei 7.102, de caráter facultativo. No entanto, praticamente todos os bancos já utilizam o dispositivo no ambiente interno. As câmeras internas realizam gravação do movimento, e não monitoramento em tempo real. Quanto às câmeras externas, a eficácia é questionável, na medida em que boa parte dos crimes de saidinha de banco ocorre longe do ambiente das agências, fora de seu alcance de gravação..
Lei ajuda a prevenir,
mas o desafio ainda é grande
O delegado Nilton Tormes elogiou as novas leis sancionadas pela prefeitura de Salvador com o objetivo de diminuir a ocorrência de saidinhas bancárias. Conforme a nova legislação, os bancos estão obrigados a instalar câmeras na parte externa das agências, assim como divisórias opacas para isolar os clientes nos caixas ou caixas eletrônicos.
“Qualquer dispositivo que facilite a ação dos policiais e dificulte a dos bandidos é bem vinda. As câmeras externas vão auxiliar na identificação de criminosos e também de situações suspeitas”, disse Tormes.
Conforme o delegado, a lei que proíbe o uso do celular nos bancos também mostrou-se útil para combater as saidinhas bancárias. “Com ela, os criminosos foram obrigados a mudar de logística. Hoje, eles têm que sair da agência bancária para avisar os comparsas”. Com as câmeras do lado de fora das agências, toda a quadrilha poderia ser identificada pela polícia.
Outra ação que tem sido realizada periodicamente em Salvador para conter o avanço no número de saidinhas bancárias é a realização de blitze com abordagem especial para os motociclistas.
A estratégia repete o que foi feito com relação aos ônibus de Salvador, que até pouco tempo eram um dos principais alvos dos assaltantes na capital baiana. Para impedir que o número de crimes a coletivos saísse do controle, foram instalados postos policiais nas estações de transbordo da cidade. Os policiais também passaram a vistoriar os ônibus com mais frequência nos locais em que ocorriam mais roubos.
Motoboys – Além de clientes comuns, os assaltantes também têm como alvo os motoboys que vão aos bancos para depositar ou retirar dinheiro em nome de grandes empresas.
“Pelo nosso acordo coletivo, os motoboys só são obrigados a transportar quantias que não ultrapassem R$ 500. Mas isso não é respeitado, por isso somos alvos”, disse o presidente do Sindicato dos Motoboys e Mototaxistas da Bahia (Sindmoto), Henrique Baltazar.
Conforme Baltazar, é necessário pensar em um dispositivo que proteja os motoboys. “Em Feira de Santana somos obrigados a tirar os capacetes para entrar nos estabelecimentos bancários. Mas isso é uma determinação inócua, por que quem é assaltante vai entrar mesmo com capacete e não vai ser identificado.
Não podem generalizar todo motoqueiro como assaltante só porque a maioria das saidinhas é cometida a bordo de uma moto. Ao invés disso, poderiam pensar em dispositivos que nos ajudassem. Não somos ladrões”, argumentou.
Leis/biombos - As diversas leis aprovadas ou em tramitação em diversos municípios não possuem estudos ou embasamentos técnicos que comprovem sua eficácia. A eficácia desse tipo de dispositivo (como os biombos), por exemplo, é questionável.
Os biombos tendem a criar pontos cegos, verdadeiros cubículos, nos quais possam ocorrer ou ter início ações indesejáveis aos quais o vigilante não terá acesso, a menos que tenha de se deslocar de sua posição, que é determinada por um plano de segurança submetido e aprovado pela Polícia Federal. Os biombos, portanto, aumentam a insegurança dentro da agência por dificultar a vigilância, uma vez que criam verdadeiros cubículos estanques.