Um trote telefônico pode causar estragos irreparáveis. Que o diga o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Era uma quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011. Às 22h30, Salvador estava no escuro devido a um apagão elétrico. O telefone toca na central de atendimento, no Pau Miúdo: um acidente entre uma van e um ônibus lotados na cidade de Lauro de Freitas deixa dezenas de feridos.
O chefe de plantão, o médico José Serra, autoriza o envio de 11 ambulâncias ao local (quase um terço do total de 41 disponíveis) e entra em contato com o Hospital Geral do Estado (HGE), solicitando a preparação da sala de emergência da unidade para receber dezenas de vítimas. Cerca de 15 minutos depois, as equipes chegam ao local do suposto acidente e constatam: alarme falso.
Por dia, a central de regulação do Samu recebe cerca de 270 solicitações de socorro. Delas, uma média de 80 (30%) são trotes, e cerca de quatro (5%) deles provocam o envio de ambulâncias. Isso significa que, em um ano, as equipes médicas fazem algo em torno de 1.465 deslocamentos desnecessários.
Para um serviço emergencial, em que minutos são literalmente vitais, trotes, em qualquer dimensão estatística, são desastrosos. Segundo o médico intervencionista Oswaldo Bastos, subcoordenador das equipes especiais do Samu, o tempo médio de atendimento em Salvador, com as dificuldades de mobilidade devido ao trânsito caótico, é de 10 minutos.
Apenas como noção numérica, os trotes sofisticados – aqueles que conseguem furar os filtros da central de urgência e mobilizar ambulâncias – representam um tempo perdido, por ano, de pelo menos 14.650 minutos, ou cerca de 244 horas, ou ainda mais ou menos dez dias.
O atual coordenador interino do Samu, Jorge Serra, explica não haver um cruzamento de dados preciso para traçar uma relação entre número de trotes e mortes, devido a um atraso no atendimento. “Mas, com certeza, alguém está deixando de ser atendido”, afirmou.
Há 10 anos atuando em atendimento de emergência pré-hospitalar, o médico Oswaldo Bastos afirmou que, apesar de não ter essa informação consistente, “nossa percepção é que há situações em que a gente tem uma grande suspeita que perdemos um paciente por causa do trote”.
Minutos podem selar o destino de pessoas com dificuldade respiratória, infarto ou traumatismo grave. “Em uma parada cardiorrespiratória, o ideal é que em quatro minutos alguém treinado esteja ao lado do paciente”, afirmou o médico Oswaldo.
Com informações do jornal A Tarde.
Nenhum comentário:
Postar um comentário