Carlos Vianna Junior REPÓRTER
Como vivem em meio à sujeira da cidade, é do lixo que encontram nas ruas que eles estão tirando sustento, ou uma sobrevida, enquanto os R$ 4 bilhões do programa de enfrentamento ao crack, do Governo Federal, não se transforma em ações que tentarão resgatá-los do “lixo de vida” onde estão aprisionados.
Uma cooperativa de reciclagem de lixo, aonde alguns usuários chegam a ganhar até R$ 2 mil por mês, localizada na rua do Gravatá, principal reduto da droga no Centro Histórico de Salvador, está no meio de uma polêmica. Ela sustenta usuários que não teria outra forma de conseguir dinheiro honestamente ou o vício?
Para Cristiano Alves de Santana, presidente e um dos fundadores da Cooperativa União, que funciona há três anos na Rua do Gravatá, a questão da droga impede que as pessoas vejam que o trabalho da cooperativa tem, inclusive, uma natureza social. “Se eles não vendessem os resíduos aqui venderiam em outros lugares, ou então encontrariam uma outra maneira, nem tão honesta assim, de conseguir sua sobrevivência”, salientou.
Desde o dia 24 de novembro, a cooperativa é o único ponto de reciclagem em atividade na região, mas sua permanência no local não está garantida. Uma ação do 18º Batalhão da Polícia Militar, em parceria com a Rondesp, batizada de Operação Gravata, fechou 12 pontos de reciclagem que funcionavam clandestinamente, além de desocupar e lacrar imóveis invadidos e usados para venda de drogas e abrigo de usuários. A Cooperativa União era o único ponto de reciclagem legalmente estabelecida. Mas segundo o coronel Anselmo Brandão, que estava à frente da operação, o pedido de cancelamento do alvará da cooperativa já foi pedido.
Fundada por um grupo de moradores da região, a cooperativa tem um quadro de 25 empregados e conta com uma média “flutuante” de 120 catadores. Segundo Cristiano, cerca de 60% deles são usuários da drogas, que ganham por produção, ou seja, pela quantidade de resíduos recicláveis que é catado por eles nas ruas.
A produção dos usuários, no entanto, não é baixa como a aparente debilidade de seus corpos podem sugerir. “Eles fumam o crack enquanto trabalham, e alguns passam o dia todo nesta rotina. Podem até parar durante o período do efeito da droga, que não dura mais que alguns minutos, mas logo voltam à ativa, por isso alguns conseguem fazer um bom dinheiro”, conta Cristiana Alves.
Contudo, ao contrário do que parece óbvio, nem todos gastam o dinheiro somente com a sobrevivência mais imediata e com a droga. Alguns deles deixam parte do que ganham na cooperativa para ser enviado à família, ou para que seus familiares possam ir buscar. “Não são poucos os que têm casa, família. Alguns de seus familiares nos ligam para saber como estão seus filhos, irmãos ou maridos”, conta o presidente da cooperativa.
Cooperativa pode fechar
Apesar de enxergar no trabalho de sua organização um viés social, Cristiano Alves sabe que a cooperativa não é bem vista por parte da comunidade. Para ele, há quem pense que a cooperativa alimenta o uso do crack, o que seria o motivo pelo qual a organização corre o risco de perder o alvará. “Somos 25 famílias vivendo disso, sem contar os catadores. Todos trabalhando e recebendo o pagamento por isso. O que eles fazem com o dinheiro que pagamos, não está em nosso controle”, justifica.
Para o coronel Anselmo, a tentativa de cancelar o alvará da cooperativa não está relacionada com o fato dos usuários terem nela uma fonte de renda. “O motivo da cassação é pelo fato de entendermos que o local não é adequado para aquela atividade. É o tipo de atividade que estaria mais bem localizada em uma região como a Sete Portas, por exemplo,” informou.
Operação Gravatá – Coronel Anselmo informou ainda que a Operação Gravatá teve a finalidade de combater o tráfico na região, e que o trabalho de enfrentamento ao crack ainda esta em andamento. Para tanto a PM está trabalhando em algumas frentes. “A Inteligência da polícia está monitorando a área e mapeando o funcionamento do tráfico na região. Além disso, desenvolvemos uma ação de presença, com policiamento circulando desde as 18h até o começo da manhã”, destacou.
Outro trabalho importante, ligado ao combate às drogas, segundo o coronel Anselmo, é a capacitação que está sendo realizada em parceria com a UFBA, no sentido de preparar o policial para lidar com os usuários. “Pois entendemos que eles são vítimas”, destacou.
Fonte: Tribuna da Bahia
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