Osvaldo Lyra-EDITOR DE POLÍTICA
O deputado Arthur Maia, do PMDB, abre espaço para polêmica ao falar da dificuldade em apoiar o deputado ACM Neto (DEM) nas próximas eleições em Salvador. Para ele, o grande impasse está no fato de ele fazer parte da base de apoio à presidente Dilma e o democrata ser um dos mais ferrenhos opositores ao governo federal. O deputado defende o nome do ex-prefeito Mário Kertész como o mais viável para unificar as oposições em 2012.
Maia nega ainda que a sucessão de 2014 esteja na pauta de negociações dos partidos, mas critica o posicionamento ameno e “pouco combativo” da oposição na Assembleia Legislativa. Nesta entrevista à Tribuna, o peemedebista alfineta também aqueles que foram para o PSD, que, segundo ele, tem “força em tamanho”, mas “não tem liga”, não sendo uma alternativa de projeto novo para a Bahia.
Tribuna da Bahia - O PMDB vai conseguir desbancar o interesse de ACM Neto de ser candidato e lançar a candidatura de Mário Kertész em 2012?
Arthur Maia – Não se trata de desbancar os interesses do deputado ACM Neto. O que existe é a necessidade de nós, que fazemos parte da oposição ao governo do Estado, termos uma candidatura competitiva à prefeitura de Salvador. Eu não tenho nada pessoalmente contra o deputado ACM Neto, pelo contrário, reconheço nele várias qualidades. Trata-se de um deputado aguerrido, competente, corajoso, que tem feito um mandato destacado na Câmara, mas pessoalmente, e aí eu falo por mim e não em nome do PMDB, eu teria uma dificuldade em fazer o apoio ao deputado ACM Neto pelo fato de eu fazer parte da bancada de apoio ao governo em Brasília. Eu não tenho como apoiar na capital da Bahia o líder da oposição ao governo que eu apoio na Câmara Federal. Eu teria que fazer uma opção. Ficar com o deputado ACM Neto pela Prefeitura de Salvador significaria eu ter que me desligar da base do governo, e eu não teria nenhum motivo para fazer isso. Reconheço que o ex-prefeito Mário Kertész reúne maiores qualificações políticas para disputar as eleições. Eu realmente estou convencido que a candidatura de Mário Kertész não só pode unificar a força das oposições como é um candidato que se coloca efetivamente como uma alternativa de vitória em Salvador.
Tribuna – Então o senhor acredita que se o deputado ACM Neto for o candidato, o PMDB terá dificuldade de apoiá-lo?
Arthur Maia - Como eu falei antes, eu apenas estou me referindo à minha posição pessoal. Não estou falando em nome do partido. Pessoalmente, eu teria essa dificuldade.
Tribuna – A oposição só vai se unir se o candidato for do PMDB?
Arthur Maia - Não se trata de só se unirão se o candidato for do PMDB. Claro que estamos iniciando um debate e há possibilidade de outras alternativas, mas essas até agora não foram colocadas. Dentro dos três nomes que estão aí postos no campo da oposição, o deputado ACM Neto, o deputado Imbassahy e o ex-prefeito Mário Kertész, eu realmente compreendo que Mário seria o nome com maior capacidade de unificação. Sem contar que até mesmo pelo papel que ele desempenha na mídia daria um potencial de crescimento maior a ele do que aos outros candidatos. Eu estou convencido de que a alternativa maior de vitória está em torno de Mário Kertész.
Tribuna – O deputado ACM Neto condiciona a eleição de 2012 à de 2014. Isso não seria uma ameaça aos planos do ex-ministro Geddel Vieira Lima de ser candidato ao governo?
Arthur Maia - Eu tenho conversado quase que diariamente com o ex-ministro Geddel, que é um amigo querido, companheiro de partido, e não sinto uma obsessão nele em ser candidato em 2014. Logicamente, pela estatura que tem e pelo fato de ter disputado as últimas eleições ao governo, é óbvio que será sempre lembrado como um nome para sucessão, mas eu tenho absoluta certeza que para ele é muito mais importante que esse campo (das oposições) possa ter uma vitória. Sem contar que 2014 ainda não está na pauta. Eu acho que quem quer que seja o nome está muito longe, qualquer referência a uma candidatura em 2014 é muito distante, até mesmo com o governador que já não vai mais poder ser candidato porque já está na reeleição. Como diz um ditado bíblico que se adapta bem à política: cada dia com sua agonia. Agora é hora de pensar em 2012.
Tribuna - Acredita na possibilidade de fusão entre o DEM e PMDB depois da eleição municipal?
Arthur Maia – O DEM vive um momento difícil, o partido encolheu bastante não só na Bahia – aliás, a Bahia foi o último grande reduto do DEM. Com a derrota do carlismo no estado, o DEM perdeu a sua condição de ser um partido importante. A previsão para o pós-eleição municipal é de que haverá uma diminuição ainda maior do partido. Além do mais, a tese que o DEM encarna não é muito bem recepcionada hoje pelo ideário político que se constituiu no Brasil, que está muito ligado à questão social – que nunca foi a preocupação maior do partido. Hoje se fala muito em uma dissolução do DEM, mas, francamente, acho que qualquer colocação desse tipo ainda está muito no campo das especulações. Você se lembra que há alguns meses se falava na fusão do DEM com o PSDB, o que foi rechaçado pelo DEM? Agora se fala disso com o PMDB. Eu, apesar de conviver diariamente com lideranças do partido no Congresso, nunca ouvi informação mais concreta a respeito desse assunto.
Tribuna - E se o deputado ACM Neto resolvesse mudar para o PMDB como foi cogitado, apesar de ter sido negado por ele?
Arthur Maia – Se foi negado por ele, não seria eu quem iria fazer uma avaliação sobre uma suposição dessa natureza. Eu posso dizer apenas que o deputado ACM Neto é um grande quadro e o partido vai avaliar se for o caso de sua vinda para que seja bom para ele e bom para o partido.
Tribuna – O senhor acha que falta uma oposição mais aguerrida no Estado?
Arthur Maia - O governador Jaques Wagner conseguiu fazer uma base de apoio maior do que o carlismo fez no auge da sua história. Obviamente que naquele momento nós tínhamos um número maior de deputados e éramos sem dúvidas uma oposição muito mais aguerrida. Veja o papel que a oposição desempenhou na época do escândalo dos grampos, da violação do painel no Senado, que influenciaram na derrocada do carlismo na Bahia. A oposição teve um forte papel quando o senador Antonio Carlos decidiu fazer a CPI do Judiciário e nós fomos a Brasília. De 1998 a 2006, e foram aí dois mandatos, realmente teve uma consistência muito maior do que a que se faz hoje na Assembleia Legislativa. Eu acho realmente, até pela prática, que a oposição hoje é muito mais amena na crítica e no combate ao governo do que era no passado. Por exemplo, eu me lembro daquela ação que eu fiz para que conseguíssemos a senha, um mandado de segurança que eu pessoalmente fiz com o apoio da minha bancada e obtivemos uma vitória importante com o poder Judiciário que naquele tempo não era um poder independente como é hoje. Apesar disso, os deputados da oposição hoje não têm a senha para fiscalizar os atos do governador e isso é uma demonstração inequívoca de que realmente a oposição tem uma postura muito serena e muito pouco combativa no sentido de fazer da Assembleia Legislativa um enfrentamento cotidiano ao governo do Estado.
Tribuna – Há o que ser feito para mudar essa realidade ou o governo continuará com tamanha hegemonia na Assembleia?
Arthur Maia – Olha, a gente tem que reconhecer que o estilo do governador Jaques Wagner é bem diferente do ponto de vista da prática pessoal do que era antigamente com o carlismo. Aquele enfrentamento que o carlismo fazia de partir para a Assembleia com atitudes mais virulentas e nós rechaçarmos era uma realidade. Hoje é diferente. Mudar ou não vai depender dos deputados estaduais. Agora, eu não vejo a sucessão ao governador Jaques Wagner como algo absolutamente tranquilo. Eu acho que dentro da própria base do governo existirão ruídos que certamente influenciarão muito na sucessão ao governo.
Tribuna - Como observa a criação do PSD que já chega com tanta força na Bahia?
Arthur Maia – Tem força pelo tamanho, mas em minha opinião não tem liga. Eu acho que um partido que se forma a partir de descontentamentos é um partido que não se projeta, pelo menos no seu nascedouro, como uma alternativa, que tenha algo de novo a apresentar para a Bahia e o Brasil. O que nós vimos na criação do PSD foi uma junção de deputados que estavam descontentes com as suas respectivas posições partidárias e encontraram essa janela de ir para um partido novo. Mas eu não vejo nessa gênese o cimento da unificação e isso é muito preocupante. Aqui no Estado o que nós vimos de alguns deputados foi o desejo de se aproximar do governo do Estado. Tudo bem que essa prática de apoiar o governo de plantão é algo muito comum na história da política brasileira, mas eu tenho receio sobre o que vai acontecer com um partido como o PSD quando ele deixar de ser governo ou quiser deixar de ser governo. Será que esses deputados que foram para o PSD para ser governo vão topar continuar no PSD e ser oposição? Essa é uma resposta que só o tempo irá dizer.
Tribuna - Somente para o PSD, o PMDB perdeu 24 prefeitos. A que atribui essa debandada? Isso fragiliza o partido no Estado?
Arthur Maia – Olha, infelizmente nós temos uma prática política na Bahia, aliás, não só na Bahia como em todo o Brasil, em que os partidos aumentam ou diminuem os seu tamanhos a depender do momento político que estejam vivendo. E isso, não em relação à população, mas em relação ao seu prestígio no governo. O PMDB logrou os frutos dessa realidade histórica em 2007, quando o governador Jaques Wagner ganhou o governo. Vimos muitos prefeitos, lideranças, deputados migrarem da oposição para o PMDB. Agora se vive o momento do refluxo. Prefeitos que têm sempre esse tipo de comportamento é natural que quando os partidos vão para oposição eles busquem uma alternativa que lhes assegurem uma participação no governo. Entretanto, é importante destacar que, diante de 2006 para cá, o PMDB cresceu e é isso que nos dá a certeza de que estamos cada vez mais fortes apesar de estarmos fazendo oposição, muito embora participando em nível federal do governo da presidente Dilma.
Tribuna – O senhor é aliado nacionalmente e oposição no estado. Isso lhe deixa confortável? Qual a sua avaliação do governo Wagner?
Arthur Maia – Eu tenho com o governador uma boa relação. Na quarta passada, por exemplo, ele fez uma reunião com a bancada baiana e eu, aliás, tanto eu como o deputado Lúcio Vieira Lima estávamos lá. Ouvimos atentamente o governador e estamos dispostos a ajudar a Bahia, no sentido de fazer as emendas que ajudem o Estado. Agora, é preciso fazer uma constatação: o governo Wagner até agora não apresentou uma obra própria no território baiano. Não existe. Então a gente assiste à propaganda do governo e você vê o programa Luz Para Todos, no Minha Casa Minha Vida, na obra da Ferrovia Oeste Leste, todas são de natureza federal. Não há, como aconteceu em outros momentos na Bahia, uma obra, uma ação, um programa do governo do Estado da Bahia, e isso é ruim porque mostra que o governo não tem capacidade de propor políticas com a sua identidade, com a sua iniciativa, e um Estado como o nosso abrir mão dessa capacidade é muito ruim. Portanto, eu, pessoalmente, faço essa crítica ao governo Jaques Wagner por não enxergar uma obra, uma ação de iniciativa própria e recursos próprios.
Tribuna - Como o senhor vê esse excesso de mudanças ministeriais e os escândalos envolvendo ministros, inclusive do próprio PMDB?
Arthur Maia - Isso é fruto de uma fiscalização maior que se faz no poder Executivo. Por outro lado, eu acho que sempre que uma coisa dessa natureza vem à tona significa que a fiscalização está funcionando. O Brasil, historicamente, conviveu com esse vírus da corrupção. A diferença é que agora as coisas são publicizadas, são colocadas abertamente. O mundo mudou, mudou pela própria conscientização das pessoas, a mídia tem uma influência muito maior, em que a própria vida das pessoas se transforma em um BBB, e isso é positivo para a transparência. Obviamente que o PMDB foi um dos mais atingidos, mas temos visto que não é só no PMDB. Outros partidos e outros ministérios estão sendo atingidos. Certamente, a presidenta Dilma vai fazer uma reforma ministerial agora no final do ano e eu acho que ela deve priorizar a qualificação mais técnica e isso também vai proporcionar aos respectivos partidos de ter uma influência maior no conjunto, independente do caciquismo que nós vemos em algumas indicações. Por exemplo, o ministro teoricamente estaria representando um partido, mas seria indicado por fulano e por beltrano que é um cacique do partido. Acho que esse sentimento de mudança da realidade é o que vai presidir a reforma ministerial, sendo mais voltada para quadros técnicos e que contemple o conjunto da base governista.
Tribuna - O PMDB tenta emplacar Fábio Mota no Ministério do Turismo. O senhor acredita num desfecho favorável para o PMDB baiano?
Arthur Maia - Eu não tenho dúvida. O Fábio é uma figura extremamente qualificada. O PMDB tem participado com algumas indicações no âmbito do governo federal aqui na Bahia. Tivemos aí alguns nomes que foram colocados pelo partido, nomeados recentemente, mostrando que o governo federal reconhece a presença e a força do PMDB baiano e o nome do Fábio está colocado. Claro que essa questão de indicação, nomeação, sempre demanda um tempo, ainda mais se tratando do Turismo, com a crise que o ministério viveu, mas eu tenho certeza que o desfecho será positivo com a indicação do Dr. Fábio Mota para ocupar esse espaço em nome do PMDB da Bahia.
Tribuna - O senhor acredita que será cobrada a fatura ao PMDB pela vitória do prefeito João Henrique em 2008?
Artur Maia - Olha, o comportamento do prefeito João Henrique não só com o PMDB, mas com todos os partidos pelos quais ele passou e se relacionou até hoje, não é exatamente o tipo de relação que alguém deseja para si. Eu acho que o PMDB será cobrado sobre isso e obviamente que o partido terá que fazer a mea culpa de ter apoiado um prefeito que não tem correspondido com as expectativas da cidade. Na hora de fazer uma opção política, você arca com os ônus e os bônus dessa opção. O PMDB fez um investimento, através do Ministério da Integração Nacional com o ministro Geddel, que apoiou intensamente a campanha de João. Ele saiu de um quadro de rejeição de 60% para vencer as eleições, e na Bahia ninguém discute que a atuação do ex-ministro foi fundamental para isso. Agora, obviamente que o partido não pode ter absoluta certeza do comportamento pessoal de ninguém. O fato é que o prefeito João Henrique, que de fato usufruiu do apoio do PMDB durante a sua eleição, logo quando se viu eleito resolveu ter o comportamento de não admitir mais a participação do partido em sua administração, e ao partido cabe naturalmente aceitar isso, não cabendo ter que se discutir se vai ou não vai sair O partido teve que sair e de lá pra cá houve um aprofundamento do declínio do governo. Eu acho que o PMDB, com toda a justiça de uma democracia, será cobrado, mas também acho que tem todo o mérito e todo o argumento, inclusive, em todos os meios de comunicação para mostrar que o partido foi realmente traído, e contra traição não há remédio. Eu acho que um partido político não pode ser enganado. Nós temos que ter maturidade para não ser enganado, mas ninguém está vacinado contra traição, e foi o que aconteceu nesse caso.
Colaboraram: Fernanda Chagas e Lílian Machado
Fonte: Tribuna da Bahia