sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Mário Kértesz, pra quem tem memória curta

Em suas duas gestões como prefeito, entre 1979 e 1981 e entre 1986 e 1988, Mário Kértesz tinha como aliado seu então Chefe do Gabinete Civil, Roberto Pinho. Juntos, Pinho e Kértesz criaram rombos financeiros gigantescos e se enriqueceram às custas do dinheiro público.

Kértesz surgiu como um dos “filhotes” do então prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães, no final dos anos 60, integrando sua equipe. Tendo ACM como padrinho, Kértesz se tornou prefeito biônico (nomeado por governadores que eram nomeados pelo regime militar; o Brasil vivia uma ditadura), e no meio do caminho ACM e Kértesz brigaram e este foi demitido por aquele. Em 1982, numa de suas entrevistas, ACM chamou Mário de “judeu fedorento”.

Mário Kértesz ressurgiu em 1985 com uma campanha contra seu antigo padrinho. Se elegeu e tentou impressionar a opinião pública como “força oposicionista” da capital baiana, chegando, neste mandato, a nomear o popular cantor Gilberto Gil como seu Secretário da Cultura. Nos bastidores, Kértesz e Pinho criaram as empresas Renurb (Companhia de Renovação Urbana) e Faec (Fábrica de Equipamentos Comunitários). São duas autarquias “fantasmas”, presididas por Pinho.

A armação veio quando Kértesz e Pinho, juntamente com o então dono das construtoras Sérvia e Engepar, Thales Nunes Sarmento, decidiram desviar recursos do Fundo de Participação dos Municípios do Governo Federal e do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) para seus patrimônios pessoais.

Esses recursos, destinados a Salvador, eram solicitados sob o pretexto de supostas dívidas contraídas pela prefeitura do município. Muitas obras de grande envergadura, como o projeto Transporte de Massa de Salvador (TMS), ancorado pelo corredor Bonocô-Iguatemi, eram paralisadas ainda em andamento, propositalmente, para “justificar” as dívidas.

Junto a essa estratégia, Kértesz e Pinho criaram artifícios legais que permitissem que empreiteiras e bancos pudessem sacar 100%, diretamente da boca do cofre, das verbas enviadas pelo FPM e ICMS à capital baiana. As empresas de Thales Sarmento “pagavam” antecipado à Renurb e Faec por serviços e equipamentos que estas posteriormente declaravam ser inviável realizar ou entregar.

Kértesz anunciava a suposta dívida, e delegava às empreiteiras os contratos que lhe autorizavam o bloqueio e o saque das verbas municipais a partir de 01 de janeiro de 1989. Muitos desses contratos eram assinados no dia anterior à saída de Kértesz da prefeitura. O seqüestro de verbas da prefeitura atravessou duas gestões (Fernando José e Lídice da Matta), e só foi derrubado por ação movida por Antônio Imbassahy, já como prefeito de Salvador, em 1997. Imbassahy adaptou e concluiu obras deixadas incompletas por Mário Kértesz.
A corrupção de Kértesz e Pinho se arrasta por mais de dez anos na Justiça. A denúncia delas pelo jornalista free lancer Fernando Conceição (hoje editor da Província da Bahia), fez Kértesz decair na trajetória política. Com o desvio de verbas, Kértesz adquiriu as rádios Clube AM, Itaparica FM e Cidade FM, comprou ações na TV Bandeirantes local e, após reatar relações políticas com ACM, foi nomeado último interventor do Jornal da Bahia, que sofria perseguição política por parte de Magalhães. Deste patrimônio, a Itaparica FM foi vendida, as ações da TV Bandeirantes foram canceladas mediante denúncia da revista Veja, e o Jornal da Bahia faliu, não nessa ordem.

ENTÃO, SEGUE ATÉ OS DIAS ATUAIS...

Experiência como radialista

Ainda como prefeito de Salvador, iniciou sua trajetória de radialista, apresentando um programa de rádio em que ele divulgava os projetos e as obras da Prefeitura.

Logo após terminar o mandato de prefeito, em 1989, investiu maciçamente no setor de comunicações, comprando três emissoras de rádio - Cidade FM, antiga propriedade do grupo carioca Jornal do Brasil (hoje Metrópole FM), Itaparica FM e Clube AM - e voltou a se aliar com ACM, até então seu desafeto, que o nomeou interventor do Jornal da Bahia, revolucionário veículo da imprensa baiana que se transformou num simples diário sensacionalista, inspirado no paulista Notícias Populares. Foi o grande responsável pelo declínio e pela falência do periódico, ocorrida em 1994. O nome Jornal da Bahia, mais tarde, acabou sendo utilizado exclusivamente por ele num dos programas da grade da rádio Metrópole FM.

A escalada de Kertész como radialista se deu em 1997, apresentando os principais radiojornais na Cidade FM e o telejornal matutino Bom Dia Bahia, da TV Aratu, que era transmitido simultaneamente com a estação de rádio do ex-prefeito. Em 1999, ele comprou ações na TV Bandeirantes Bahia, comandando o noticiário populista Jogo Aberto (que também era apresentado pelo locutor Raimundo Varela). A Cidade FM, que Kertész havia comprado, foi rebatizada Metrópole FM em abril de 2000.

Em 2001, criou a rádio Metrópole AM, cuja frequência é a mesma da extinta Rádio Clube AM, que também havia comprado, e saiu do Jogo Aberto, voltando no final de 2003. Novos projetos foram lançados mais tarde, incrementando seu empreendimento jornalístico: a revista Metrópole (2007), o Jornal da Metrópole, tabloide distribuído gratuitamente nos principais pontos de Salvador (2008) e até a TV Metrópole, existente apenas no site da rádio.


(Texto baseado em informações da Província da Bahia)

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