terça-feira, 25 de outubro de 2011

Médicos e policiais civis cruzam os braços

Thiago Pereira e Tiago Nunes

Mais de 200 clínicas e hospitais privados não filantrópicos que prestam atendimento ao Sistema Único de Saúde (SUS) em Salvador paralisaram as atividades ontem, dia em que atingiram o teto estipulado para atendimento de pacientes vinculados ao plano de saúde público.

De acordo com o presidente da Associação de Hospitais e Serviços de Saúde do Estado da Bahia (AHSEB), Marcelo Britto, as instituições operavam além da capacidade e não recebiam o repasse correspondente ao de pessoas atendidas, operando, portanto, com prejuízos.

“Estamos parando por uma determinação do SUS, que não tem recursos para nos pagar. Como estamos recebendo apenas 75% do teto, só temos condições de fazer 75% dos atendimentos, o que nos obriga a parar por sete dias”, afirmou Britto. 

Marcada para ocorrer até o dia 31 deste mês, a paralisação deve provocar a suspensão de aproximadamente 40 mil atendimentos diários, ou 280 mil em sete dias, o que, na avaliação do presidente da AHSEB, provocará um grande déficit no atendimento de urgência e emergência da capital baiana, que concentra a maior parte dos casos em instituições privadas. “Nossa maior preocupação é com a população, que ficará muito prejudicada, mas não temos opção”.

Ainda conforme Britto, a paralisação não atinge o Hospital das Clínicas, que estaria operando abaixo do teto. “Eles recebem o repasse sem prestar o atendimento. Por isso não sofreu cortes”. Outras paralisações não foram descartadas pelo presidente da Associação.

Cortes – Além de acumularem prejuízos por atenderem mais pacientes do que o repasse de verbas permite, os hospitais e clínicas privadas tiveram, desde maio, um corte de 25% no teto pago nas faturas do SUS. Segundo Marcelo Britto, as instituições, buscando não afetar a população, tentaram obter a recomposição do teto sem paralisar o atendimento, mas não tiveram sucesso.

“Apesar do reconhecido empenho do Secretário Municipal de Saúde, Gilberto José, que se mobilizou em uma luta para recompor o pagamento e permitir aos prestadores que o atendimento pudesse seguir  normalmente, o corte foi mantido, pois os recursos que seriam voltados para o pagamento dos prestadores foram direcionados para instituições como o Hospital das Clínicas e o Irmã Dulce. Dessa forma, somos obrigados a destinar os pacientes para atendimento nestes hospitais”, explicou.

Mais protestos - Médicos do Sistema Único de Saúde (SUS) devem suspender nesta terça (25) por um período de 24 horas o atendimento eletivo em 18 estados brasileiros, entre eles a Bahia. O movimento, coordenado pela Associação Médica Brasileira (AMB), pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Federação Nacional dos Médicos (Fenam), tem o objetivo de protestar contra a baixa remuneração e as más condições de trabalho no SUS. A estimativa é que 100 mil profissionais de saúde deixem de trabalhar.

Por conta da manifestação, serão suspensos os exames, as consultas, as cirurgias eletivas e outros procedimentos. O vice-presidente do CFM, Aloísio Tibiriçá, garantiu que o atendimento a emergências será mantido. “O movimento é a favor da população e não contra. Não vamos negar esse tipo de assistência”, disse.

Os médicos também reclamam da não implantação da Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM), da defasagem da tabela do SUS, da ausência de um plano de carreira, das contratações sem concurso e da falta de isonomia salarial na rede pública.

O piso salarial definido pela Fenam em 2011 é R$ 9.188,22 para uma jornada de 20 horas semanais. Um levantamento divulgado pelo movimento indica que os valores pagos atualmente variam entre R$ 723,81 e R$ 4.143,6 – resultando em uma média nacional de R$ 1.946,91.

Servidores - Os dentistas suspenderam atendimento aos pacientes dos planos odontológicos hoje. A classe pede reajuste no valor dos procedimentos, além do pagamento dos materiais utilizados e redução nos pedidos de Raio-x para comprovar a realização do tratamento pelos planos de saúde. No próximo dia 3, a categoria realiza uma assembleia para definir se entra em paralisação por tempo indeterminado ou não, segundo informou o Conselho Regional de Odontologia Bahia (CRO).

Os servidores públicos da Bahia - entre eles os policiais civis - vão cruzar os braços e paralisar as atividades a partir das 8h de terça. Os classistas exigem do Governo Estadual o pagamento da Unidade Real de Valor (URV), que corresponde às diferenças decorrentes da implantação do plano real, ocorrida em 1994. A previsão é de que a categoria vá às ruas de Salvador reivindicar. O protesto estima atingir, por volta das 9h, a frente do Shopping Iguatemi. Ainda segundo os sindicatos dos setores em protesto, os profissionais retomaram suas atividades normalmente na manhã de quinta-feira (26).

Fonte: Tribuna da Bahia

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