segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

A história da Caderneta de Poupança e o seu dinheiro

Rafael Bastos

A maior parte dos investidores investe ou já investiu na Poupança e por mais incrível que pareça, esta grande maioria não compreende bem o funcionamento deste produto de investimento. Neste artigo iremos compreender detalhadamente esta aplicação, sua história, seus riscos e os seus benefícios.

A Poupança é a mais antiga forma de aplicação oficial do Brasil, tendo seu surgimento ainda no século XIX, junto com a Caixa que foi um banco criado com o objetivo de recolher os depósitos dos brasileiros (principalmente os menos favorecidos financeira e socialmente). Em 1861 o então Imperador Dom Pedro II afirmava que “A Caixa Econômica estabelecida na cidade do Rio de Janeiro (...) tem por fim receber, a juro de 6%, as pequenas economias das classes menos abastadas e de assegurar, sob garantia do Governo Imperial, a fiel restituição do que pertencer a cada contribuinte, quando este o reclamar (...)”.

E assim surgiu a caderneta de Poupança, como um objeto de reserva ou um local seguro para que a população guardasse seu dinheiro (o nome caderneta deve-se ao fato de que os depositantes da Poupança tinham uma caderneta de controle para aplicações e resgates).
 
Em 1871, através da lei 2040 os escravos passaram a poder guardar o seu dinheiro (proveniente de legado, herança, etc) na Poupança e no ano seguinte o decreto 5153 determinou que os escravos (com autorização de seus senhores) poderiam guardar na Poupança o dinheiro recebido como renda de trabalho.
 
Com o início da república, não houve grandes alterações no funcionamento da Poupança que em 1874 teve seu teto de rentabilidade fixado em 6%. Apenas em 1915 surgiu uma nova mudança que permitiu que as mulheres, mesmo em oposição expressa da vontade do marido, pudessem instituir a sua própria caderneta de Poupança.
 
Em 1964 houve mais uma importante mudança nas Poupanças que passaram a ter os seus rendimentos (além dos 6% ao ano) corrigidos monetariamente para tentar compensar a inflação. Esse sistema durou até 1994 (início do Plano Real) e atualmente os valores depositados na Poupança são remunerados em 0,5% ao mês mais uma correção monetária pela TR (Taxa Referencial de Juros).
 
A TR é obtida através de uma equação financeira: o Banco Central (BACEN) apura a média de captação dos CDBs (Certificados de Depósito Bancário) e RDBs (Recibos de Depósito Bancário) nos bancos. Desta média é subtraída uma taxa redutora definida pelo BACEN e o resultado é a TR. A TR de Dezembro/11 foi de 0,0937.

A Poupança possui três benefícios muito claros: 1 – atualmente é isenta de Imposto de Renda (digo atualmente, pois esta é uma configuração insustentável para uma taxa de juros abaixo de 9% ao ano); 2 – a Poupança possui liquidez diária, ou seja, a qualquer momento o poupador pode sacar o seu dinheiro e 3 – a Poupança tem proteção do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) para aplicações até R$70.000 por CPF em cada instituição financeira.

Em contrapartida ela possui duas características muito negativas: 1 – o poupador só recebe os juros do período no aniversário, ou seja, ela não possui capitalização diária pró-rata e se o aplicador retirar o dinheiro 1 dia antes do aniversário ele perde o direito ao juros do período o que essencialmente anula o benefício da liquidez diária e 2 – a rentabilidade da Poupança é muito baixa, inclusive não conseguindo “ganhar” em muitos meses da própria inflação, ficando sem ganho real de juros pois os preços subiram mais que o retorno oferecido aos poupadores (o retorno em 2011 foi um dos piores nos últimos 17 anos devido a alta inflação – praticamente o dinheiro não saiu do lugar com um retorno real de apenas 0,94% no ano).
 
Agora que entendemos melhor a sua história e propriedades precisamos colocar tudo numa balança, pois mudar uma crença ou um paradigma não é fácil. A Poupança é um produto antigo e direcionando as classes mais baixas poderem guardar o dinheiro. Não é um produto competitivo em termos de retorno ao investidor.

Existem atualmente no sistema financeiro investimentos com os mesmo benefícios da Poupança e com um retorno quase 2 vezes maior. Você não anda mais em carruagens nem navega em caravelas, portanto não há motivo para continuar investindo com um produto criado há dois séculos. Pense nisso, busque uma assessoria especializada e solicite um comparativo de rentabilidades e risco. Você se surpreenderá! 


Fonte: Tribuna da Bahia

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