Murilo Melo - Jornal A Tarde
A Globo vive uma fase admirável com suas telenovelas. Cheias de Charme é
leve e divertida; Malhação, mesmo desgastada por várias temporadas, voltou a
abordar temas do cotidiano jovem; e o autor da novela das nove, João Emanuel
Carneiro, consegue deixar Avenida Brasil eletrizante e imperdível a cada cena.
Mas a atual das seis de Elizabeth Jhin — autora especialista em temas que
envolvam espiritismo e bruxaria — é preocupante.
A trama tem uma ótima direção de arte, boas locações, uma fotografia
deslumbrante e atores do primeiro escalão. Ainda assim, a menos que aconteça
algo excepcional, “Amor Eterno Amor” não vai emplacar. O motivo, a gente vê
quando perde alguns minutos em frente à TV: a novela se arrasta, arrasta e
arrasta, provoca até sono com temas clichês e ritmo monótono e não consegue
chegar a lugar nenhum.
Em seu 73º capítulo, “Amor Eterno Amor” não seguiu as brilhantes “Cordel
Encantado” e “A Vida da Gente”, embora consiga manter os 24 pontos no Ibope
também registrados pela sua antecessora.O tema principal, da mãe que procura o
filho desaparecido não é dos mais originais, mas poderia haver alguma
movimentação, um argumento, um texto novo ou alguma reviravolta. Talvez fosse
isso que o telespectador esperasse. Não aconteceu. Pelo menos, ainda.
É bem verdade que pode parecer exagero dizer que a novela anda, anda e anda
mas não diz a que veio. É bem verdade que Verbena (Ana Lúcia Torre) morreu,
Valéria (Andréia Horta) apareceu grávida, planejou casamento e foi atropelada a
mando de Melissa (Cássia Kiss Magro); que Gracinha (Daniela Fontan) fugiu para o
Rio de Janeiro; Gabriel (Felipe Camargo) conseguiu conquistar Beatriz (Carolina
Kasting) e os dois começaram a namorar; Miriam (Letícia Persiles) terminou o
namoro com Fernando (Carmo Dalla Vecchia) e...
Só que nada disso realmente contribuiu para transformar a trama em um
marco. Todo folhetim precisa de ações que mexam com a adrenalina e emoção de
quem assiste. É necessário prender a atenção, criar expectativa, fazer com que o
telespectador diga “amanhã eu não perco!”, e não precisa necessariamente
explodir um carro ou gritar minuto a minuto para que isso aconteça.
Depois do reencontro de Rodrigo e sua mãe Verbena, a novela parece ter
perdido o gancho tão promovido pela emissora carioca durante as chamadas. Com a
morte da matriarca, Rodrigo deu início a uma disputa com sua tia Melissa,
interpretada por Cássia Kiss. Ele é aquele típico mocinho que briga pela herança
da família e não sossega até encontrar o amor separado da infância, a quem ele
prometeu sentimento eterno, daí o nome da novela.
Não fosse apenas abusar de histórias já relatadas em inúmeros folhetins,
Elizabeth Jhin volta a um assunto que já apareceu em suas duas últimas tramas,
“Eterna magia” e “Escrito nas Estrelas”, a questão do espiritismo. Ela, que
parece decidida a apostar no tema, desta vez traz à tona uma discussão inovadora
sobre “crianças índigo”, termo usado para crianças que possuem dons sensitivos e
abordado pela atriz Klara Castanho. Para quem acredita em uma outra doutrina ou,
simplesmente, não crê em nada, a trama chega a ser incômoda, pouco
convidativa.
E um problema grave: a novela não conseguiu aproximar o público do casal
principal. O entrosamento entre Rodrigo e Miriam é fraco, são um pouco "água com
açúcar", os dois mal aparecem juntos e nenhum conflito é criado. Exatamente como
aconteceu com o casal Diana (Carolina Dieckmann) e Mauro (Rodrigo Lombardi) em
Passione. “Amor Eterno Amor” serve também para desperdiçar ótimos atores. A
começar por Andréia Horta.
Essa moça não é nenhuma surpresa, merecia um personagem de maior destaque,
porque provou em seus últimos trabalhos ser uma boa atriz. Rosane Goffman, que
vive a empregada Valdirene, chega ao Projac todos os dias para interpretar uma
história sem atrativos. Dimas, personagem de Luís Melo, é praticamente um
personagem qualquer para que Melissa descarregue todo seu texto.
Mas “Amor Eterno Amor” também tem seus acertos. A vilã de Cássia Kiss Magro
é, ao mesmo tempo, cômica e odiável. A atriz aproveita bem todos os traços de
maldade e altivez da exagerada personagem para se distanciar de uma vez por
todas da sofrida Dulce, de Morde & Assopra. Destaque também para Gabriel
Braga Nunes, que volta à TV com a missão de, meses após o fim de ” Insensato
Coração”, apagar a imagem do inescrupuloso Léo para o herói romântico
Carlos.
Até o momento, “Amor Eterno Amor” deixa os telespectadores com a sensação
de que nos capítulos seguintes os trunfos serão revelados. O problema é que
esses trunfos nunca chegam, porque parecem não existir.
Não convenceu:
Uma aura branca em volta dos espíritos da trama. Oscila entre o patético e o ridículo, além de parecer amadorismo puro.
Uma aura branca em volta dos espíritos da trama. Oscila entre o patético e o ridículo, além de parecer amadorismo puro.
Ninguém sabe ao certo no que vai dar o personagem de Letícia Persiles, a
Miriam. A moça, que foi reprovada em vários testes da Globo, aparece nas
filmagens como se fosse secundária e não protagonista. Ainda não pegou o jeito
da coisa.
A tal da Elisa que não aparece nunca. Dizem que será vivida pela atriz
Mayana Neiva, mas a novela daqui a pouco tempo chega ao
fim.
Convenceu:
As trocas de perucas da personagem de Cássia Kiss Magro. Por vezes, o telespectador sente vontade de rir com esse enriquecimento da personagem.
Convenceu:
As trocas de perucas da personagem de Cássia Kiss Magro. Por vezes, o telespectador sente vontade de rir com esse enriquecimento da personagem.
Marina Ruy Barbosa. A personagem Juliana, decidida a emplacar um projeto de
uma nova coluna na revista Cena Contemporânea, na qual é estagiária, trouxe à
atriz um amadurecimento fantástico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário