Tribuna da Bahia - Osvaldo Lyra EDITOR DE POLÍTICA
O presidente da executiva estadual do PT, Jonas
Paulo, resolveu anunciar que o candidato do Democratas, ACM Neto, será
o principal alvo dos petistas na eleição em Salvador. Em entrevista à
Tribuna, o dirigente petista diz que vão insistir até o último
minuto para atrair os partidos da base para a candidatura de Nelson Pelegrino e
nega ainda o risco de estremecimento com os aliados, devido haver reciprocidade
na troca de apoios no interior do Estado.
Além de admitir que a
greve dos professores da rede estadual pode trazer prejuízos na próxima eleição,
pois já traz à imagem do governador Jaques Wagner, o dirigente dispara que mesmo
com o provável apoio do prefeito João Henrique (PP) à chapa petista, caberá a
ele e a seus apoiadores defenderem a atual gestão
Tribuna da Bahia – A gente está na reta final de negociações. O que
está dificultando o anúncio de apoios de peso à candidatura de Nelson
Pelegrino?
Jonas Paulo – Primeiro nós estamos ultimando
detalhes da composição. Uma composição de uma chapa vitoriosa, obviamente, tem
muito mais detalhes do que o ultimato. Em relação à coligação proporcional, em
relação à composição da chapa propriamente dita, em relação ao estabelecimento
dos vínculos desses partidos com o projeto. E obviamente também há pleitos dos
partidos em relação a cidades importantes em que os partidos têm presença. Não que
seja um toma lá, dá cá, mas é que a ideia da contemplação dos interesses do
conjunto das forças, afinal de contas, nós estamos numa coalizão. Nós temos uma
coalizão que governa o Brasil, uma coalizão que governa a Bahia e um espírito
para Salvador que também é de compor uma coalizão, então isso requer um pouco
mais de cuidado, mais atenção, principalmente para que todos se sintam
confortáveis nessa composição.
Tribuna – O que podemos falar de nomes, partidos...
Jonas – Nossa candidatura vai melhor, inclusive, do
que nós esperávamos. Nós estamos fechando apoios importantes, costurando
segmentos fundamentais na política baiana para fazer essa composição. Nós temos
a mesma lógica da construção nacional e estadual. Então, para construir uma
chapa, uma frente de centro-esquerda, pra de fato entrar nas eleições buscando decidi-la no primeiro ou no
segundo turno. Então, nós estamos muito satisfeitos com as
negociações.
Tribuna – O PCdoB, o PDT e o PTB ensaiam criar um “blocão”. Como o
PT avalia essa movimentação?
Jonas – Todas as movimentações são legítimas,
porque todos querem ser ouvidos, todos querem ser contemplados no processo. Mas
eu quero dizer que nós estamos conversando tranquilamente com esses partidos. Sem nenhum percalço nas
nossas conversas. Obviamente, os partidos legitimamente de forma autônoma
afirmam o desejo de construir eles mesmos os seus espaços. Mas nós temos mantido
conversas bastante proveitosas com todos. Não vejo o risco de estremecimento na
nossa frente partidária inicialmente prevista, que é a contemplação da mais
ampla participação das forças da base de Jaques Wagner na nossa candidatura em
Salvador.
Tribuna – Há quem diga que interessa ao PT, ou a parte do partido,
outra candidatura forte da base, justamente para contrabalancear uma candidatura
do DEM e do PMDB...
Jonas – Não é essa a nossa compreensão. A nossa
compreensão é que nos interessa a mais ampla unidade das forças políticas da
base do governador Jaques Wagner, pois a eleição de Salvador para o PT é uma
eleição nacional, uma eleição onde no nosso palanque estarão as figuras
nacionais do PT, para nós fazermos uma disputa fundamentalmente com o DEM, que é
a principal força de oposição na cidade. Nós temos a incumbência, nós estamos
operando com a direção nacional, tal como em São Paulo, Salvador é prioridade
absoluta nacional do PT e é com essa lógica que nós vamos disputar.
Tribuna – A tentativa de hegemonia do PT, que tem incomodado os
partidos da base, pode dificultar uma aliança no segundo turno?
Jonas – Não. Nas reuniões do conselho político não é esse
o sentimento que os partidos manifestam. Nós temos sido bastante criteriosos e
tranquilos para contemplar os partidos onde eles são mais fortes que nós. Onde
eles têm candidaturas mais competitivas do que nós. Onde eles têm maior
capacidade de fazer a disputa do que nós, e posso citar diversos exemplos, já
que estamos fazendo uma entrevista sobre a Bahia e não só sobre Salvador. Posso
lhe dizer, por exemplo, que nós vamos apoiar o PDT em Paulo Afonso, nós não
vamos ter candidato em Porto Seguro, em Eunápolis, nós estamos discutindo
alianças em Barreiras, em Guanambi, estamos debatendo em Juazeiro. Então, isso
mostra o quanto nós estamos abertos ao debate e à construção de perspectivas em
que os partidos aliados se fortaleçam nas principais cidades da Bahia. Onde o PT
apresenta melhores índices, nós reivindicamos liderar a coligação. E onde nós
não temos o nome mais forte, nós buscamos construir com os aliados uma
candidatura competitiva.
Tribuna – Acredita que o PT vai atuar até o último minuto para
levar os aliados do “blocão” para a candidatura de Pelegrino?
Jonas – Não. Não é questão de não acreditar. Nós vamos
trabalhar até o último momento para construirmos a unidade das forças da base do
governo Jaques Wagner para disputar a eleição da capital, visto que a
candidatura, a principal candidatura adversária é a candidatura da oposição
nacional, portanto, da oposição ao nosso projeto vitorioso no Brasil, e a uma
outra candidatura que também nos faz oposição no plano estadual. Então estamos
enfrentando a oposição e só conhecemos um remédio para vencê-la, o mesmo que nós
usamos em 2006 e usamos em 2010: a nossa unidade.
Tribuna – As negociações com o PR como andam?
Jonas – O PR ele veio de forma mais clara, o PR da Bahia
conseguiu conosco ajustar a sua integração ao processo, junto com o governo
federal e o governo estadual e, portanto, há um clima de diálogo, obviamente
respeitadas as especificidades desse partido. Mas onde nós temos condições de
dialogar como PR nas eleições, nós estamos dialogando. Por exemplo, em Casa
Nova. Então, onde as condições criadas para favorecer a aliança com o PR, nós
iremos fazer a aliança com o PR.
Tribuna – O PTN e o PSC?
Jonas – Dos partidos que não compõem formalmente, o PSC
está em processo avançado de integração à base. Os partidos que se integram à
nossa base, nós dialogamos de igual a igual, sem nenhum problema, e, os que não
estão, nós dialogamos nas especificidades de cada partido. Então, portanto,
obviamente nós não queremos aglutinar somente a base, nós queremos aglutinar
todos aqueles que querem construir conosco uma nova perspectiva para
Salvador.
Tribuna – Há alguma expectativa de atrair o PTN para a base?
Jonas – Nós estamos buscando para nossa candidatura atrair
todos aqueles que não querem que, a partir de Salvador, se construa um caminho
para voltar ao passado. Todos aqueles que sinceramente acharem que nós
deveríamos continuar essa trajetória de mudança e não voltarmos a um tempo de
autoritarismo, de perseguição, também, em certa medida, de subjugar os
interesses da população, da cidadania, de construir apartheid social como havia
em Salvador. Todos aqueles que não querem a volta ao passado e querem construir
conosco essa perspectiva nova. Mesmo aqueles que não possuem identidade profunda
com o nosso projeto, mas que queiram se somar a esse esforço.
Tribuna – Como o PT vê a aliança do PV, um aliado histórico, com o
DEM?
Jonas – O PV teve candidato a governador da Bahia em 2010
e foi uma candidatura mais hostil a nós e ao nosso projeto do que qualquer
outra.
Tribuna – Como o senhor observa essa tentativa do DEM de entrar
numa área (movimentos sociais) que sempre foi muito próxima do
PT?
Jonas – O Democratas tem história, a Bahia conhece. Aliás,
conhece inclusive o nome da família que expressa o poder oligárquico que esse
projeto significa. Aí não passa de uma tentativa de voltar ao passado, tentando,
obviamente, usar espaços que a política oferece, mas acho que não vejo
(interferência). Salvador está claramente colocada no desafio de seguir a
mudança na Bahia e no Brasil e trazê-la de forma mais acentuada ou com maior
identidade com o presidente Lula, a presidenta Dilma ou com o governador Wagner
para governar a capital, do que voltar ao passado que a Bahia conhece, que a
Bahia derrotou.
Tribuna – O PMDB, na análise de vocês, vai sustentar a candidatura
de Mário Kertész?
Jonas – O PMDB tem buscado construir na Bahia um caminho
próprio e não tem sido bem-sucedido. O PMDB tem sido nosso maior parceiro, nosso
grande aliado nacional. Na Bahia tem buscado seu caminho próprio e não tem sido
bem-sucedido. Mas isso é uma questão que compete, obviamente e legitimamente, ao
PMDB avaliar.
Tribuna – O PSD, de Otto, tem hoje a mesma importância que o PCdoB
tinha até pouco tempo para o PT?
Jonas – Não. O PCdoB continua sendo nosso aliado
estratégico. O PCdoB é nosso aliado das lutas sociais. O PCdoB é o nosso
parceiro de sonhos. Continuamos trabalhando juntos, articulando juntos,
discutindo juntos. O PCdoB tem legitimidade de buscar construir suas próprias
movimentações, mas sempre atento ao diálogo conosco. O PCdoB, numa eleição de
dois turnos, quer abrir um debate, o faz com legitimidade. Eles acham que podem
fazer uma ação no primeiro turno, mas nós temos discutido isso de uma forma
muito fraterna. Nossas diferenças não são divergências de fundo, de estratégia.
São diferenças da movimentação tática, mas nós achamos que o PCdoB continua e
sempre foi o nosso grande aliado, o nosso aliado da primeira hora.
Tribuna – O PSB e a senadora Lídice da Mata? Como está o
entendimento com eles?
Jonas – O PSB, nós temos conversado bastante. O PT tem
sido um grande parceiro do PSB. Nós trabalhamos a candidatura ao Senado de
Lídice da Mata como uma campanha que trouxe para nós um orgulho muito grande.
Com muita unidade e afinidade política, com muito respeito à autonomia de cada
um, mas com a consciência de que o PSB é um partido fundamental. É um partido
que, junto conosco, vem derrotando as oligarquias tradicionais no Nordeste, que
mudou a face da região junto com o PT e com outras forças. Portanto, estamos
trabalhando para que essa aliança aconteça aqui novamente.
Tribuna – Qual o indicativo do vice de Pelegrino? Qual será o
critério da escolha do nome?
Jonas – O critério de vice sempre será algo em que os
partidos da frente política discutem. Sempre será isso. E quem mais tem
possibilidade de agregação eleitoral, política e social. Isso sempre foi
critério para escolher vice, que é aquele que consolida a frente política
constituída. Nós queremos construir uma frente de centro-esquerda. Agora vamos
trabalhar com os aliados e buscar com eles qual o melhor nome, o que mais agrega
e, logicamente, aquele que traz estabilidade política à frente. Será esse o
perfil e a forma que vamos constituir a vice de Salvador.
Tribuna – O diálogo com o PDT está parado após a exigência da vice
ou está avançado?
Jonas – O PDT é um partido fundamental, essencial. É um
direito do PDT dizer como ele gostaria de participar do processo, e nós estamos
atentos a essa manifestação do PDT. Agora, estamos de forma muito tranquila,
costurando com o conjunto dos partidos onde o PDT tem papel importantíssimo,
estamos costurando essa composição.
Tribuna – Por que o governador Jaques Wagner não conseguiu sentar
ainda pra negociar e acabar com a greve dos professores?
Jonas – Olha, o partido se manifestou sempre a favor dos
movimentos sociais. O PT nunca irá virar as costas para a luta social, para a
luta sindical. Pelo contrário, é um elemento importante na vida do nosso
partido. Estamos tendo um momento de impasse. Dissemos isso ao governo, estamos
dizendo isso ao movimento, tentando encontrar o caminho do diálogo para que a
gente possa solucionar essa questão. Ela já está trazendo prejuízos políticos ao
conjunto dos entes envolvidos, governo, movimento sindical, partidos políticos,
lideranças, estamos já conversando sobre isso, que começa a trazer prejuízos
para o nosso projeto. Não a luta em si, o impasse é que traz. Então nós estamos
buscando, nos esforçando para buscar um caminho, e o PT, o PSB, o PCdoB têm sido
instrumentos dessa tentativa de estabelecer esse diálogo e resolver esse
impasse.
Tribuna – A imagem do governador já foi prejudicada com a greve.
Isso pode repercutir negativamente nas eleições tanto em Salvador quanto no
interior?
Jonas – Sabemos que sim. Nós vivemos o movimento social,
sindical. As pessoas que estão no movimento são militantes dos nossos partidos.
Entendemos que nós estamos gastando as nossas energias hoje numa disputa que é
importante para os trabalhadores, sem dúvida, como é importante para o governo a
sua relação com seus funcionários. Nós estamos nesse aspecto tentando ajudar a
conciliação, mas o que eu quero dizer é que a nossa agenda real, inclusive em
Salvador, Feira e Itabuna, é de enfrentar o DEM. Nós temos que estar com as
nossas energias voltadas para derrotar a direita. Isso que é fundamental. Essa
questão dos trabalhadores, ela é importantíssima, nós estamos vendo com carinho,
mas entendemos que o momento de nós buscarmos uma saída e a nossa prioridade
nesse exato momento é conseguir uma saída que fortaleça o movimento social e
garanta ao governo o seu papel democrático e resolva, pelo menos parcialmente, o
problema dos professores, sem comprometer os investimentos e as prioridades das
finanças públicas. Mas que nós possamos, nesse momento, focar as nossas energias
nessa tarefa que é derrotar a direita.
Tribuna – Qual vai ser o discurso de Pelegrino durante a campanha?
Vai ser de apenas colar na imagem do governador, da presidente ou de Lula?
Jonas – De fato, Salvador precisa se encontrar com seu
povo. Não há dúvida. Nós estamos muito preocupados com a autoestima do
soteropolitano e, portanto, há um sem número de políticas que precisam ser
desenvolvidas, além dos grandes investimentos que estão previstos para a cidade,
e os que estão acontecendo na cidade, como saneamento básico da Baía de Todos os
Santos, a Via Expressa, o Metrô, Arena Fonte Nova. A questão que é uma das
saídas para nós, é não tratar apenas de Salvador, mas atuar para integrar as
políticas de desenvolvimento da região metropolitana, entendendo que hoje
Salvador e a RMS é um espaço urbano contínuo. Então isso nós temos que fazer,
então foi pensado isso, acho que o Governo do Estado tem um papel a cumprir, a
partir dos seus órgãos de intervenção na região metropolitana e isso precisa
ficar melhor azeitado, dentro de um planejamento, de uma visão, de uma nova
estratégia de desenvolvimento para Salvador e acho que, para isso, Pelegrino
está bem afiado na compressão que não vai apenas fazer uma apresentação dos
projetos nacionais e estaduais e sim construir um novo projeto para a
cidade.
Tribuna – Como é que vai ser o PT defender a gestão João Henrique
na campanha, caso o prefeito declare apoio a Pelegrino?
Jonas – Nós sempre dissemos que o governo municipal tem
legitimidade, tem direito pra ter o espaço próprio para defender o seu governo,
o seu legado de oito anos. Nem todo governo é só de acertos e só de erros. De
fato, nós achamos que precisamos ter um novo momento de governo de Salvador.
Isso aí nós não temos dúvida. Um novo modo de governar a cidade. Sobre essa
necessidade que a cidade exige, o novo momento. Mas entendemos que, se for
vontade do governo municipal lançar uma candidatura, ele tem toda legitimidade
para fazê-lo. Essa é a nossa compreensão. Não sendo, obviamente é uma equação de
ver como o governo municipal pensa que vai ser feita a defesa do seu legado. E
discutir isso com os parceiros, como o governo municipal vai fazer essa
defesa.
Tribuna – E se a escolha for o PT?
Jonas – Logicamente, aqueles que conhecem a administração
por dentro vão expor as razões dos atos que cometeram. Das ações que fizeram ou
das que deixaram de fazer. Compete sempre aos atores que atuaram nessa cena
falar sobre ela.
Colaboraram: Fernanda Chagas e Fernando Duarte
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