quarta-feira, 25 de abril de 2012

Cachê de Gabriel O Pensador cria polêmica com escritor Carpinejar

Gabriel O Pensador recebria R$ 170 mil para ser patrono da Feira do Livro de Bento Gonçalves, no RS
Da Redação
 
O cachê de R$ 170 mil pago ao cantor Gabriel o Pensador para que ele seja patrono da Feira do Livro de Bento Gonçalves está provocando polêmicas. No domingo, o escritor gaúcho Fabrício Carpinejar cancelou a participação que faria no evento e, em carta aberta à organização, manifestou sua insatisfação.
 
Ele disse que o artista não tem culpa de pedir o valor, porém a prefeitura não deveria acatá-lo. Segundo a Prefeitura de Bento Gonçalves, o valor incluiria show, palestras e distribuição de livros.
A diretoria da Associação Gaúcha de Escritores também lançou um manifesto intitulado Como Se Faz Uma Feira de Livro, em que, em tom irônico afirma que Gabriel canta, dança, produz shows e escreve livros, enquanto a maioria dos escritores, todavia, “apenas” escreve.
Leia a íntegra da carta escrita por Fabrício Carpinejar

"Querida Coordenação da Feira:

Estou cancelando minha participação na 27ª Feira do Livro de Bento Gonçalves. Lamento fazer isso por todo amor que guardo pelos leitores da cidade.

É meu protesto pelo cachê absolutamente excessivo de R$ 170 mil destinado a Gabriel o Pensador. O artista (que eu admiro) não tem culpa de pedir o valor, porém a Prefeitura tem inteira responsabilidade de acatá-lo e não informá-lo da real capacidade cultural do município.
O anúncio de pagamento ao músico é uma afronta às vésperas de pleito eleitoral.
Literatura não deve ser feita para atrair público, e sim para formar público.
Feira do Livro não é uma Oktoberfest, uma Fenavinho, uma plataforma popular de shows musicais e apresentações midiáticas. Feira é intensificar leituras em escolas e universidades ao longo do ano para propiciar debates e mesa-redondas com escritores durante uma semana.
Uma receita simples e imbatível: ler e comentar, ler e discutir, ler e produzir idéias coletivamente e transformar o pensamento.

O escândalo? Trazer grandes nomes com dinheiro público a preços estratosféricos? é sempre a forma mais rápida de projeção nacional. A literatura é o modo mais lento, entretanto, com efeitos definitivos e perenes.

Quantas bibliotecas poderiam ser construídas com esse cachê? Quantas feiras poderiam ser realizadas com esse cachê?

Pense, querida coordenação, que o cachê é o equivalente a uma primeira parcela para fazer a Escola Municipal Infantil Paulo Freire, que acaba de ser inaugurada no Loteamento Panorâmico, no bairro São Roque, em Bento Gonçalves, para atender 240 crianças em turno integral.

Nas conversas telefônicas com a produção da Feira, aceitamos um valor padrão de R$ 1.000,00 (um mil reais), devido à alegação de que não haveria exceção, de que se tratava de uma regra extensiva aos demais participantes. A organização lamentou que não teria condições de exceder determinada quantia por limitação de orçamento. Vejo, infelizmente, que a Feira estava economizando com os autores gaúchos para pagar uma atração nacional.

Cuidado, a ilusão custa mais caro do que o sonho.

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