George Brito - Jornal A Tarde
Pelas ruas Padre Feijó, no Canela, e Saldanha Marinho, na Caixa D’Água,
Valdelice dos Santos Silva, 55, e Valtermira Souza dos Santos, 85, enfrentam
ladeiras acentuadas para chegar, respectivamente, ao Hospital Universitário
Professor Edgard Santos (Hupes) e ao Hospital Ana Nery. Elas são vítimas de um
erro histórico de urbanismo, porém agravado pela negligência do poder público em
superá-lo ou minimizá-lo.
Localizadas equivocadamente no meio de ladeiras íngremes, exigindo esforço
de pessoas com a saúde debilitada, muitas delas idosas, as unidades de saúde
estão distantes de pontos de ônibus. “Olha só como estou cansada. É horrível ter
de andar tanto, descer e subir ladeira para pegar o transporte”, lamentava
Valtermira, no último dia 30, após deixar o Hospital Ana Nery, onde realizou uma
radiografia do crânio. “Ando esquecendo as coisas”, explicou, retomando o
fôlego.
Algumas horas antes, Valdelice andava vagarosamente, de muletas, pela Rua
Padre Feijó. Acabara de sair do Ambulatório Magalhães Neto, no Hupes, onde fez
um exame de sangue e tentou, sem sucesso, realizar um ultrassom – suspenso na
unidade. “Sinto dificuldade de locomoção. Tive uma doença que os médicos
disseram ser uma variação do lúpus (moléstia rara provocada por desequilíbrio do
sistema imunológico)”, contou. “Agora, vou ter de subir a ladeira para pegar o
ônibus lá em cima (em frente à Reitoria da Universidade Federal da Bahia)”,
reclamou.
Indignação - O quadro indigna o chefe do serviço de
gastro-hepatologia do Hupes, Raymundo Paraná, que enviou carta ao A TARDE
denunciando a permanência do problema: “O que vemos é um escárnio. Pacientes
ortopédicos, cardiopatas, com doenças hepáticas e sequelas neurológicas sobem e
descem a ladeira para ter acesso a uma simples consulta”.
No Ana Nery, a situação obriga pacientes a pegarem táxis até os pontos. O
“escárnio” afeta também quem precisa se dirigir ao Laboratório Central Professor
Gonçalo Muniz (Lacen), localizado na Rua Waldemar Falcão, em Brotas. Existe
apenas uma linha de ônibus convencional que dá acesso à unidade. “Aqui só passa
Ribeira, e a cada uma hora. Temos de vir andando”, reclamou a auxiliar de
disciplina Vilma Maria de Oliveira, 54.
A caminhada é longa e exaustiva, por ladeiras e escadarias, partindo da
Avenida Vasco da Gama ou da Av. Juracy Magalhães. “Não tem ponto de ônibus. O
Lacen é mal localizado. Um posto que faz tudo”, engrossou a queixa a aposentada
Edna Souza Pereira, 66, que foi buscar resultado de exame de sangue. Diante da
insuficiência de transporte, ela preferiu ir andando, do bairro de Santa
Cruz.
Sem respostas - A princípio, soluções simples resolveriam
o problema, a exemplo da instalação de pontos de ônibus em frente às três
unidades de saúde. “Bastava fazer um ponto de ônibus na área recuada do Centro
Pediátrico Hosannah de Oliveira”, sugere Paraná, sobre o hospital
universitário.
A TARDE enviou e-mail à prefeitura detalhando o problema das três unidades.
A Superintendência de Transporte (Transalvador) não respondeu aos
questionamentos. Diretores das unidades também não se posicionaram
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