Tribuna da Bahia - Osvaldo Lyra EDITOR DE POLÍTICA
A executiva nacional do PSB tem pressionado pela candidatura da
senadora Lídice da Mata em Salvador. No entanto, ela, que preside o PSB na
Bahia, embarcou na última sexta para os Estados Unidos numa missão oficial da
CPI do Tráfico de Pessoas do Senado, sem nada decidir. Já conversou com o
presidente nacional Eduardo Campos e com o governador Jaques Wagner, mas nada.
Diz que depende agora das condições “que criemos para que isso (candidatura)
possa se viabilizar”. Nessa entrevista à Tribuna, apesar de fazer mistério sobre
o posicionamento da sigla, ela dá indicativos de que pode apoiar uma candidatura
da base do governo, leia-se PT ou PCdoB. A socialista diz ainda que o apoio do
prefeito João Henrique nessa eleição será negativo e que seu nome está no páreo
pelo governo do estado em 2014.
Tribuna da Bahia – Senadora, já existe alguma definição se o PSB vai ter ou
não vai ter candidatura própria em Salvador?
Lídice da Mata – O PSB hoje trabalha com a hipótese de ter a minha
candidatura, mas, eu volto a dizer, com uma hipótese. A hipótese de ter
candidatura própria ou compor junto com uma candidatura, discutindo com a
direção nacional do partido, que nesse momento comanda as conversas
políticas.
Tribuna – Já existiu algum contato da senhora com o presidente nacional
Eduardo Campos. Há algum entendimento?
Lídice – Claro, claro. Eu tive uma conversa de mais de duas horas com o
presidente do partido. Sobre a política nacional, sobre política regional, sobre
a situação de Salvador, a situação do partido. Obviamente, foi até por isso que
nós pensamos nessa alternativa de candidatura.
Tribuna – Houve então algum apelo para que a senhora encabeçasse um projeto
de candidatura única?
Lídice – Não, não é um apelo. O presidente do partido não precisa me
apelar. Ele tem uma possibilidade maior que essa, que é de discutir, do que me
convencer de uma posição política, de fortalecimento do partido. Isso não quer
dizer que seja a única alternativa, que o partido só possa fazer essa
candidatura própria. A hipótese de uma candidatura foi colocada para que o
partido nacional decida que caminho ele vai trilhar nessa eleição.
Tribuna – Qual é esse caminho? Qual o sentimento da senhora,
senadora?
Lídice – Não é uma questão de sentimento. Eu acho que o partido, ao estar
se colocando em diversas importantes cidades do país, como aliado,
principalmente, do PT, ele tem a hipótese de analisar em ser candidato ou de
apoiar candidaturas. E, se nós queremos o apoio de alguma força, temos que ter
capacidade de analisar a hipótese de apoiá-las. Então, pra nós, não há uma
posição que seja ‘ou somos nós candidatos ou nada’. Não é isso. Nós podemos ser
candidatos ou podemos trabalhar a hipótese de apoiar a candidatura de Nelson
(Pelegrino, do PT), a candidatura de Alice (Portugal, do PCdoB), ou a
candidatura de alguém que esteja no nosso campo de alianças.
Tribuna – Qual seria o time para acontecer essa definição?
Lídice – O time seria definido pelo limite legal. Ou seja, nós temos até o
dia 30 para tomar essa decisão, 30 de junho. Mas eu acredito que, antes disso,
nós teremos uma possibilidade de avaliar o quadro político. Logo que eu chegar
dos Estados Unidos, eu já estarei em condição de voltar a conversar com o
partido nacional.
Tribuna – A senhora viaja então com um indicativo mais pra ter uma
candidatura ou para fazer uma aliança?
Lídice – Nesse momento não. Não há nenhuma hipótese de uma coisa ou outra
assim. Não é isso. O partido discutiu comigo a possibilidade da minha
candidatura. Nós estamos, portanto, neste momento, analisando. É possível, no
entanto, reavaliar isso
Tribuna – A senhora se coloca à disposição do partido...
Lídice – Depende das condições que criemos para que isso possa se
viabilizar, de alianças possíveis, conjuntura política com que nós possamos
encarar esse momento, ou, na verdade, como qualquer outro, eu creio que, no
partido, nós desejamos o fortalecimento de nossa legenda com candidaturas de
vereadores ou com candidatura de prefeito. Nem sempre ter uma candidatura a
prefeito quer dizer que o partido cresceu, se fortaleceu. O partido pode sair de
uma eleição derrotado, eventualmente, mas politicamente fortalecido. Ou
vice-versa. Então, são essas as circunstâncias que nós vamos ter que
analisar.
Tribuna – A senhora já teve alguma conversa recente com o governador Jaques
Wagner sobre isso?
Lídice – Sim. Eu jamais tomaria qualquer decisão de anunciar uma posição
eleitoral sem conversar com o governador, por quem tenho não só admiração, mas
que reconheço como um líder do nosso projeto no estado da Bahia.
Tribuna – E em algum momento ele chegou a colocar a importância de unir a
base dele em torno de Pelegrino?
Lídice – O governador colocou em todas as reuniões que tivemos, tanto
pessoais, quanto coletivas, a importância de sua base sair unida. Não apenas em
Salvador, mas em outras cidades importantes. É claro que essa análise já foi
feita.
Tribuna – A senhora avalia o estremecimento entre o PT e o PCdoB? Seria
fruto do calor pré-eleitoral ou devido à tensão gerada pela greve dos
professores?
Lídice – Sinceramente, não tenho visto este estremecimento. Tenho estado
com o presidente do PCdoB ( deputado Daniel Almeida), com a deputada Alice
Portugal. Não tem estremecimento algum. Eles continuam sendo tratados com todo o
respeito pelo governador Jaques Wagner. Não sei de onde viria essa ideia de
estremecimento.
Tribuna – O deputado Capitão Tadeu tem se colocado à disposição do PSB,
caso a senhora não seja alçada à condição de candidata. Ele poderia ser indicado
como um vice, numa composição, por exemplo, com Alice Portugal?
Lídice – Não sei. Tudo isso depende da análise, entendeu? Tadeu é um
deputado valoroso, coloca seu nome à disposição do partido, mas cabe ao partido
analisar.
Tribuna – Como a senhora observa a fragmentação da oposição, com duas
candidaturas colocadas até agora, do PMDB e do DEM? Isso facilita para a base do
governo?
Lídice – Sim, sim. Claro. Eu acho que se a oposição estivesse unida, o
governo buscaria também se unificar. Esse cenário de oposição unida, porque,
afinal de contas, há uma oposição na Bahia, que não tem a mesma oposição em
nível nacional. Ou seja, o PSDB e o DEM são partidos de oposição do atual
governo da presidente Dilma. O PMDB não é um partido de oposição ao governo da
presidente Dilma. E isso certamente faz com que haja dificuldades na formação de
uma aliança sólida, por exemplo, para a prefeitura de Salvador.
Tribuna – A senhora acha que isso dá sinais de conforto então para que
aconteça mais de duas candidaturas da base do governo Wagner, por
exemplo...
Lídice – Creio que sim. Eu, na verdade, acho que nenhuma candidatura tem
conforto. Nenhuma aliança numa eleição traz conforto. Toda eleição é tensa, é
disputada. Em toda eleição há sempre uma série de imprevistos. Não é possível
garantir hoje quem ganha uma eleição depois de amanhã. As análises técnicas de
pesquisa, sejam quantitativas, sejam qualitativas, analisam situações,
hipóteses, sinais. Mas na hora, quem decide é o povo. E isso está muito distante
de termos qualquer tipo de certeza sobre qualquer candidatura. Acima de tudo, eu
creio que as candidaturas do governo têm amplas possibilidades de saírem
vitoriosas. O que não quer dizer que sejam.
Tribuna – Na avaliação da senhora, o que precisa mudar de mais imediato em
Salvador?
Lídice – São tantas coisas. Nós temos hoje uma cidade profundamente
entristecida. Eu tenho dito que Salvador precisa recuperar a sua capacidade de
liderança sobre os negócios da cidade, sobre a ação pública da cidade e também a
sua função de nortear, de dar limite. Eu acho que nós temos uma situação tão
dramática na cidade hoje, que eu vejo, que nós estamos com uma crise de
autoestima. Eu penso que a gente precisa, em Salvador, é recuperar a liderança
de definição sobre os rumos da cidade. A autoridade sobre a cidade. A autoridade
para gerir os espaços públicos e definir os limites também com relação aos
espaços privados.
Tribuna – Qual será a maior dificuldade, na visão da senhora, do próximo
prefeito que vier a assumir o comando de Salvador?
Lídice – Depende de quem seja o prefeito. Prefeito não é tudo igual. O
prefeito que tenha um apoio do governo federal e do governo estadual terá um
tipo de dificuldade. O prefeito que não tenha esse apoio terá outro tipo. Como
eu disse, a cidade hoje se encontra numa crise profunda de identidade, uma crise
profunda de autoridade sobre a cidade. Liderança sobre a cidade, para definir os
seus rumos, definir o limite da atuação dos interesses privados. Colocar os
interesses públicos acima dos interesses privados. Isso é a questão central, em
todas as áreas. O povo já sabe. Isso pode ser visto tanto na área imobiliária,
quanto no Carnaval. Tanto na área do trânsito, quanto no comando de uma política
pública de educação ou de saúde.
Tribuna – A relação com a iniciativa privada então, a senhora define que
seja mais clara do que é hoje?
Lídice – Que seja transparente e, principalmente, que seja delimitado o
espaço.
Tribuna – Que saia inclusive do limite das quatro paredes e que a
prioridade do público seja colocada em prática...
Lídice – Eu digo isso com relação ao PDDU, eu digo isso em relação, eu
volto a dizer, às questões do comando do Carnaval. A devolução do Carnaval pro
povo de Salvador, não é que o povo não participe, mas um modelo em que ele possa
ampliar a sua participação. E assim por diante.
Tribuna – O apoio do prefeito João Henrique nessa fase vai ser mais
positiva ou mais negativa?
Lídice – Aí depende da avaliação de qualquer um. Na minha opinião, no meu
modo de entender, será negativa. Porque eu acho que a política exige de cada um
de nós uma função didática. Nós saímos de um governo de João Henrique com
diversas questões, entre elas o nosso entendimento, no caso do PSB, de que ele
havia se distanciado dos compromissos que ele havia assumido no início de seu
governo. Isso está expresso, por exemplo, no slogan essencial de sua
candidatura, que foi “Prefeitura de participação popular”, e a mudança clara
desse slogan e dos rumos do seu governo. Eu não posso, simplesmente, querer que
o prefeito João Henrique me apoie se eu rompi com ele. Eu acho que o povo espera
de nós uma posição de coerência, então, se eu terei o apoio do prefeito, mesmo
se eu quisesse, eu teria que explicar para a população por que, para que ficasse
claro para a população que tipo de acordo é que está sendo feito. Em que base
esses acordos são feitos. Senão acaba ficando uma ideia de que é tudo igual, não
tem diferenciação. E não é. Se nós queremos ter uma candidatura que tem um
projeto crítico com relação ao projeto que aí está, então eles são
diferentes.
Tribuna – Como é que a senhora avalia os desgastes que o governo Wagner tem
passado nos últimos dias?
Lídice – Eu não entendo. Muita gente diz que é porque tem greve. Eu não
conheço nenhum governo do Brasil que não enfrente greve. O governador enfrentou
uma greve da Polícia Militar que não foi só na Bahia. Começou no Maranhão,
depois foi pro Ceará, depois foi pra Sergipe, depois chegou na Bahia e depois
chegou no Rio de Janeiro, num movimento nacional. O governador está enfrentando
um momento de dificuldade enorme com o movimento de professores que também foi
um movimento nacional. Existiu esse movimento em diversos estados brasileiros.
Eu tenho total solidariedade às reivindicações dos professores, mas como também
tenho solidariedade ao governo, porque sei dos limites que o governo tem para
viabilizar essas reivindicações. Eu lamento muito que nós tenhamos chegado a um
impasse. E acho que o impasse só pode ser desfeito se há concessão dos dois
lados. Não pode haver uma concessão só do lado do governo. Então é preciso que
os dois movimentos possam encontrar a saída para esse momento. Eu não vejo como
se fazer governo sem haver a possibilidade de enfrentar uma greve, por exemplo.
Greve é fruto da existência da democracia no país.
Tribuna – Essa questão das greves, a seca, isso pode impactar negativamente
para os candidatos do governador nessa campanha? A senhora acredita que isso
pode acontecer?
Lídice – Eu acho que pode, como também não pode. A seca não depende do
governador. A seca depende do tempo, de chover ou não chover. Eu sou testemunha
do quanto o governador tem trabalhado nessa questão de dotar a Bahia de sistemas
de abastecimentos de água. Tanto que nós temos um programa, o Água para Todos,
que está sendo, digamos assim, entre aspas, positivamente copiado pelo governo
federal.
Tribuna – Pra finalizar, eu sei que 2012 nem passou ainda, mas o nome da
senhora está no páreo para 2014?
Lídice – Acho que sim. Acho que 2014, a própria construção de 2012, da
unidade de 2012, desse campo liderado pelo governador Jaques Wagner cria o
momento para que a gente possa ter uma renovação da política no estado e nomes
importantes de todos os partidos ficarão colocados. E creio que o PSB, sem
dúvida nenhuma, pode dispor do meu nome para esse debate.
Colaboraram: Fernanda Chagas e Fernando Duarte
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