terça-feira, 29 de maio de 2012

Coluna Palpite: “Amor Eterno Amor” pode ser mais um fiasco da Globo

Murilo Melo - Jornal A Tarde
A Globo vive uma fase admirável com suas telenovelas. Cheias de Charme é leve e divertida; Malhação, mesmo desgastada por várias temporadas, voltou a abordar temas do cotidiano jovem; e o autor da novela das nove, João Emanuel Carneiro, consegue deixar Avenida Brasil eletrizante e imperdível a cada cena. Mas a atual das seis de Elizabeth Jhin — autora especialista em temas que envolvam espiritismo e bruxaria — é preocupante.
A trama tem uma ótima direção de arte, boas locações, uma fotografia deslumbrante e atores do primeiro escalão. Ainda assim, a menos que aconteça algo excepcional, “Amor Eterno Amor” não vai emplacar. O motivo, a gente vê quando perde alguns minutos em frente à TV: a novela se arrasta, arrasta e arrasta, provoca até sono com temas clichês e ritmo monótono e não consegue chegar a lugar nenhum.
Em seu 73º capítulo, “Amor Eterno Amor” não seguiu as brilhantes “Cordel Encantado” e “A Vida da Gente”, embora consiga manter os 24 pontos no Ibope também registrados pela sua antecessora.O tema principal, da mãe que procura o filho desaparecido não é dos mais originais, mas poderia haver alguma movimentação, um argumento, um texto novo ou alguma reviravolta. Talvez fosse isso que o telespectador esperasse. Não aconteceu. Pelo menos, ainda.
É bem verdade que pode parecer exagero dizer que a novela anda, anda e anda mas não diz a que veio. É bem verdade que Verbena (Ana Lúcia Torre) morreu, Valéria (Andréia Horta) apareceu grávida, planejou casamento e foi atropelada a mando de Melissa (Cássia Kiss Magro); que Gracinha (Daniela Fontan) fugiu para o Rio de Janeiro; Gabriel (Felipe Camargo) conseguiu conquistar Beatriz (Carolina Kasting) e os dois começaram a namorar; Miriam (Letícia Persiles) terminou o namoro com Fernando (Carmo Dalla Vecchia) e...
Só que nada disso realmente contribuiu para transformar a trama em um marco. Todo folhetim precisa de ações que mexam com a adrenalina e emoção de quem assiste. É necessário prender a atenção, criar expectativa, fazer com que o telespectador diga “amanhã eu não perco!”, e não precisa necessariamente explodir um carro ou gritar minuto a minuto para que isso aconteça.
Depois do reencontro de Rodrigo e sua mãe Verbena, a novela parece ter perdido o gancho tão promovido pela emissora carioca durante as chamadas. Com a morte da matriarca, Rodrigo deu início a uma disputa com sua tia Melissa, interpretada por Cássia Kiss. Ele é aquele típico mocinho que briga pela herança da família e não sossega até encontrar o amor separado da infância, a quem ele prometeu sentimento eterno, daí o nome da novela.
Não fosse apenas abusar de histórias já relatadas em inúmeros folhetins, Elizabeth Jhin volta a um assunto que já apareceu em suas duas últimas tramas, “Eterna magia” e “Escrito nas Estrelas”, a questão do espiritismo. Ela, que parece decidida a apostar no tema, desta vez traz à tona uma discussão inovadora sobre “crianças índigo”, termo usado para crianças que possuem dons sensitivos e abordado pela atriz Klara Castanho. Para quem acredita em uma outra doutrina ou, simplesmente, não crê em nada, a trama chega a ser incômoda, pouco convidativa.
E um problema grave: a novela não conseguiu aproximar o público do casal principal. O entrosamento entre Rodrigo e Miriam é fraco, são um pouco "água com açúcar", os dois mal aparecem juntos e nenhum conflito é criado. Exatamente como aconteceu com o casal Diana (Carolina Dieckmann) e Mauro (Rodrigo Lombardi) em Passione. “Amor Eterno Amor” serve também para desperdiçar ótimos atores. A começar por Andréia Horta.
Essa moça não é nenhuma surpresa, merecia um personagem de maior destaque, porque provou em seus últimos trabalhos ser uma boa atriz. Rosane Goffman, que vive a empregada Valdirene, chega ao Projac todos os dias para interpretar uma história sem atrativos. Dimas, personagem de Luís Melo, é praticamente um personagem qualquer para que Melissa descarregue todo seu texto.
Mas “Amor Eterno Amor” também tem seus acertos. A vilã de Cássia Kiss Magro é, ao mesmo tempo, cômica e odiável. A atriz aproveita bem todos os traços de maldade e altivez da exagerada personagem para se distanciar de uma vez por todas da sofrida Dulce, de Morde & Assopra. Destaque também para Gabriel Braga Nunes, que volta à TV com a missão de, meses após o fim de ” Insensato Coração”, apagar a imagem do inescrupuloso Léo para o herói romântico Carlos.
Até o momento, “Amor Eterno Amor” deixa os telespectadores com a sensação de que nos capítulos seguintes os trunfos serão revelados. O problema é que esses trunfos nunca chegam, porque parecem não existir.
Não convenceu:

Uma aura branca em volta dos espíritos da trama. Oscila entre o patético e o ridículo, além de parecer amadorismo puro.
Ninguém sabe ao certo no que vai dar o personagem de Letícia Persiles, a Miriam. A moça, que foi reprovada em vários testes da Globo, aparece nas filmagens como se fosse secundária e não protagonista. Ainda não pegou o jeito da coisa.
A tal da Elisa que não aparece nunca. Dizem que será vivida pela atriz Mayana Neiva, mas a novela daqui a pouco tempo chega ao fim.

Convenceu:

As trocas de perucas da personagem de Cássia Kiss Magro. Por vezes, o telespectador sente vontade de rir com esse enriquecimento da personagem.
Marina Ruy Barbosa. A personagem Juliana, decidida a emplacar um projeto de uma nova coluna na revista Cena Contemporânea, na qual é estagiária, trouxe à atriz um amadurecimento fantástico.

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