segunda-feira, 21 de maio de 2012

Homicídios em Salvador e RMS aumentam 27% com relação a 2011

Salvador e RMS atingem marca de mil homicídios, um mês antes do que em 2011. A taxa aumentou, mesmo desconsiderando a greve de policiais

Juan Torres e Rafael Rodrigues - Correio da Bahia
Embora os assassinatos tenham se tornado assustadoramente comuns em Salvador e Região Metropolitana (um a cada 3 horas e 20 minutos), nenhum deles é casual. Da falta de uma família à ausência da atuação do Estado, passando por transtornos psicológicos ou até amores mal resolvidos, diversos fatores constroem um homicídio. Mas o que constrói 1.000 homicídios em uma cidade, em menos de cinco meses? Bem-vindo a Salvador 2012. A capital baiana e Região Metropolitana registraram na sexta-feira o milésimo assassinato deste ano, segundo dados divulgados, diariamente, no site da Secretaria da Segurança Pública (SSP).
A milésima vítima - Robson Santos da Silva, 23 anos, morto em Cajazeiras VIII - dá início a uma série do CORREIO sobre a violência em Salvador. E se o leitor tem a sensação de já ter visto algo parecido antes, tem razão. Triste razão. O CORREIO também fez uma série em 2011, após a cidade computar mil mortes. A diferença é que, este ano, chegou-se ao número mais de um mês antes do que no ano passado.
O crescimento da taxa de homicídios é de 27% - 72,89 homicídios por 100 mil habitantes em 2012 contra 57,63 no ano passado. A curva foi puxada, em grande parte, pela Região Metropolitana, cuja violência cresceu duas vezes mais que a da capital (39,6% contra 21,6%) - veja gráfico acima. Vale ressaltar que essas estatísticas não incluem os latrocínios (roubos seguidos de morte), que não entram no registro diário da SSP.

Greve
Apesar de os 182 homicídios registrados em fevereiro, durante o motim de PMs, terem elevado os números da violência na capital baiana, mesmo excluindo-se os dias de greve das estatísticas, a taxa de homicídio em Salvador e RMS teria sido de 65,27 por 100 mil habitantes este ano – um crescimento de 13% com relação ao índice de 2011.
Ainda assim, o secretário da Segurança Pública, Maurício Barbosa, atribuiu a elevação dos assassinatos justamente à greve. “A análise não pode ser extremamente numérica. Se você tem um movimento paredista, gera efeitos além de período da greve. Sabíamos que os efeitos iriam surgir até quatro meses depois. O que nós vemos em maio, com uma redução de quase 20% com relação ao ano anterior, já é uma volta aonde estávamos antes do início da greve”, diz, explicando que só este mês a SSP conseguiu retomar alguns programas.
46 mil anos Embora o número seja o mesmo, as mil vidas perdidas este ano não são iguais às mil do ano passado. O que você é capaz de fazer em um ano? Quantas pessoas pode conhecer? Quantos lugares? Onde estará no ano que vem? Fazendo o quê? Com quem? Cada um dos mil mortos – cada um deles – tinha uma história que foi interrompida. Tinha planos que foram interrompidos.
Tudo o que ele viveria dali pra frente foi enterrado. No total, em apenas 3,3 mil horas de 2012, os mil homicídios acabaram com 46 mil anos de vida, representados na mancha vermelha do gráfico ao lado. Não é uma mancha aleatória. Assim como cada assassinato, ela não é casual. É única, construída com base nos 591 mortos que foram registrados com idade no site da SSP, e representa todos os anos de vida tirados dessas vítimas.
Cada vida está representada por uma linha que começa no centro e é interrompida na idade em que a pessoa foi assassinada. A união de todas essas linhas forma a mancha vermelha. Ocorre que, sendo brasileiras, esperava-se que todas essas pessoas vivessem até os 73,5 anos (o limite do círculo preto), a expectativa de vida no país.

AdolescentesQuanto mais jovem se morre, mais anos de vida se perde, é claro. E em 2012 cresceu a proporção de adolescentes assassinados. Enquanto no ano passado, 17,5% das mortes eram de jovens entre 15 e 19 anos, este ano eles representam 21,19% das vítimas de homicídios.
Segundo Barbosa, é preciso considerar múltiplos fatores para esse aumento. “Quando a gente fala de segurança pública, só querem imputar à polícia a questão de segurança, mas não fazemos uma avaliação de como andam as condições de educação dessa criança, que deveria estar na escola.
Infelizmente, as crianças não têm a assistência devida, e quem sofre com isso é a população, que tem a entrada desses jovens no caminho do tráfico”, analisa.

Na faixa entre 20 e 24 anos, a proporção caiu de 27,22% para 21,19%. A média de idade das vítimas, porém, praticamente se manteve: 27,8 no ano passado, e 27,2 este ano.




Líder nacional
De acordo com o Mapa da Violência, estudo realizado para o Ministério da Justiça pelo Instituto Sangari, Salvador (isolada da RMS) era, em 2000, a terceira capital com menos assassinatos no país – 12,9 homicídios por 100 mil habitantes. Só Natal (10,4) e Florianópolis (10,2) tinham situação melhor.
Doze anos depois, essa taxa cresceu 400%, para os atuais 65,07 homicídios por 100 mil habitantes. Ainda segundo o estudo, que tem dados até 2010, Salvador é a capital com maior crescimento de violência de todo país (330% entre 2000 e 2010), e a quarta onde mais se mata, atrás somente de João Pessoa (80,3), Maceió (109,9) e Vitória (67,1).
Série premiada
A série 1000 Vidas, realizada pelo CORREIO no ano passado após o milésimo homicídio, foi finalista do Prêmio Esso e está indicada ao Data Journalism Awards, prêmio internacional especializado em jornalismo de dados, financiado pelo Google e organizado pelo Global Editors Network e European Journalism Centre.



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