segunda-feira, 21 de maio de 2012

Professores são injustos com Wagner, diz Pelegrino

Biaggio Talento - Jornal A Tarde

O pré-candidato petista à prefeitura Nelson Pelegrino acredita que um afunilamento natural vai reduzir o número de candidaturas de partidos da base do governo do Estado à Prefeitura de Salvador. Ele está costurando o apoio dessas legendas para seu nome.

Por que está sendo difícil para o PT fechar, nessa eleição municipal, a configuração das coligações que o partido fechou em eleições passadas? Os partidos da base de apoio (do governo Jaques Wagner) ficaram mais ambiciosos?
Sendo a eleição de Salvador em dois turnos, todo mundo acha que pode explicitar seu projeto, o que é legítimo. Segundo, nós estamos no governo do Estado, o governador tem um estilo diferente de conduzir as coisas. E o processo de afunilamento (das candidaturas) vai começar agora. De agora para a primeira semana de junho. O primeiro foi de colocação de projeto, teste de candidaturas, agora vem o momento da unificação.

O que diz o fórum de partidos da base do governo Wagner?
O fórum acordou que nós vamos caminhar juntos nos 35 maiores municípios do Estado nessa eleição, inclusive os três que têm eleição em segundo turno – Salvador, Feira de Santana e Vitória da Conquista. O que der para caminhar no primeiro turno, ótimo. O que der para o segundo, a aliança está sinalizada. Essa é a grande vantagem. É preciso lembrar que a base do governo é muito ampla. Por votação, os partidos que compõem a base do governo representam mais de 70% do eleitorado da cidade.

Então, o senhor acredita que em Salvador não haverá muitas candidaturas?
Acho. Agora, em que nível esse afunilamento acontecerá nós vamos ver até o dia 15 de junho. Eu gosto de citar o exemplo dos ex-deputados Alcides Modesto e João Almeida. Há alguns anos, Alcides era o único deputado do PT e João o líder da bancada do PMDB, do bloco da maioria na Assembleia Legislativa. Certa feita, Alcides disse para João: “A bancada de vocês não se une, não tem consenso”. E João respondeu: “É natural, nossa bancada é maior, tem 40 deputados, a sua é mais unida, tem um só...”

Vai aumentar mais agora a base do governo Wagner com a adesão do PR...
É. O PR está vindo, outros estão em processo de incorporação, estamos debatendo a questão do PSC também, então a base está sendo ampliada e é natural que numa base desse tamanho haja a vontade de – sabendo que é uma eleição de dois turnos –, explicitar seu projeto, testar seu nome, o espaço. Também tem a ver com cada um querer crescer e o posicionamento em relação a 2014.

E a situação do PCdoB é complicada nesse momento? Já que há a greve dos professores comandada pelo sindicato que tem muitos dirigentes comunistas, além das negociações com o PMDB...
Jonas Paulo (presidente estadual do PT), comentando uma recente entrevista do deputado Daniel Almeida (presidente estadual do PCdoB), que disse que o PMDB era o segundo maior partido da base do governo federal, fez uma observação: a de que existe um acordo do fórum dos partidos da base do governo pelo qual alianças fora desse fórum tem que passar pelo fórum. Você pode ter, pontualmente, no interior do Estado, onde a aliança é uma coisa residual que não compromete a hegemonia do projeto (do PT e seus aliados). Eu sempre disse que via com muita dificuldade a possibilidade de uma unidade PMDB /DEM/ PSDB, pois não existe unidade de propósitos nem em 2012, nem em 2014. Ou seja, o DEM queria apoio para 2014, que o PMDB não pode dar pois está no palanque de Dilma (Rousseff). O PSDB queria explicitar uma candidatura, pois tinha legitimidade para isso, Antonio Imbassahy foi prefeito de Salvador durante oito anos. Mas o partido acabou sendo vítima do rolo compressor , de cima para baixo, do deputado ACM Neto (DEM) – o que, aliás, todos estão reclamando disso.

Mas, voltando ao PCdoB...
Sim. Isso é um problema. A eleição em Salvador não é uma coisa residual. E uma aliança com o PMDB implica um debate sobre a postura que o PCdoB tem dentro do governo do Estado, de campanha. Mas, acho que existe muito balão de ensaio nessa eleição, muita movimentação que não é explícita. O Lúcio (Vieira Lima) estava na Câmara dos Deputados reafirmando que Mário Kertész será candidato. Ao mesmo tempo, ele joga um flerte para o PCdoB. Inteligentemente todo mundo quer jogar na nossa divisão. É uma estratégia.

O senhor veria uma dificuldade numa candidatura do PCdoB?
Veja: A coisa vai se afunilar. O PCdoB pode ter uma dificuldade de encontrar um parceiro para encarar a eleição no primeiro turno. O partido tem conversado com os partidos da base, mas pode ser que essas conversas não prosperem para um apoio. Da nossa parte, estamos tranquilos porque temos um acerto de caminhar juntos, se não der no primeiro turno, será no segundo. E nós estamos montando uma frente que nos levará ao segundo turno da eleição.

O senhor achou razoável essa explicação que o próprio Daniel Almeida deu sobre o fato de ter sido fruto da radicalização de alguns líderes da greve dos professores, que não seria responsabilidade do PCdoB, que chamaram o governador Jaques Wagner de “ditador”?
Na minha opinião, acho que há uma injustiça (dos professores) em relação ao governador. Tenho participado de muitas negociações. Nosso governo não trata o servidor público como os governos passados. Em todos os anos foram dados reajustes, carreiras são reestruturadas. Os professores tiveram um aumento de 30% acima da inflação. Quando Wagner assumiu, os professores ganhavam menos que o salário mínimo como salário-base. Tinha que ser com gratificação para complementar. Sou testemunha, pois participei desse debate. O governo fez um esforço grande para que esse movimento não terminasse numa greve. Inclusive admitindo pagar os 22% – uma parte em novembro, outra em abril. Sei que há uma dinâmica interna no movimento sindical. Você tem lá PCdoB, mas tem PSB, PT, PSOL, PSTU, há disputas internas, eleição este ano. Então, essa dinâmica levou à paralisação.

O senhor tem que trabalhar contra esse desgaste no governo do Estado que a greve está provocando...
Não tenha dúvida. Eu estou preparado para, na eleição, enfrentar o debate de como os governos passados tratavam os servidores públicos e nós tratamos. Por exemplo, os praças da PM tiveram reajuste de 38% acima da inflação, antes do governo atender uma reivindicação de 14 anos, porque participei dessa negociação em 1997, que criou a lei que estabeleceu as gratificações que o governo vai pagar e custará R$ 400 milhões. A proposta que o governo fez para resolver o problema dos professores vai custar R$ 500 milhões. O Estado já está 44%, quase chegando em 46% em relação ao limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal. Agora há essa mobilização dos médicos. É preciso lembrar que todos somos parceiros na admi nistração estadual. O Sindicato dos Médicos é ligado ao PCdoB que tem um peso muito grande na Secretaria de Saúde. Ocupa postos estratégicos na Sesab. Portanto, de toda política que é feita pelo governo do Estado eles são parceiros. Então, não concordo que o governador não tem uma relação democrática com os servidores públicos e que não tenha implantado uma política de valorização. Agora, para governar, às vezes é preciso ter coragem de dizer não. O governo foi no limite para tentar resolver o problema (dos professores).

O senhor aceitaria o apoio do deputado Antonio Imbassahy depois de ele ter sua candidatura abortada?
Não posso recusar apoio. Apoio é adesão. Imbassahy apoiou Pinheiro no segundo turno da eleição passada. ACM Neto apoiou João Henrique.

Está havendo negociação para o PP do prefeito João Henrique lhe apoiar?
Enquanto o PP tiver candidato não posso comentar sobre isso. Se o PP quiser reavaliar sua candidatura e quiser dialogar, vamos fazer isso a partir dessa realidade.

Qual o nível de participação do PT na administração João Henrique, na sua opinião?
Na primeira eleição de João Henrique, deixei de ir ao segundo turno por 0,35% dos votos e o cenário que estava colocado era o seguinte: o candidato do senador Antonio Carlos Magalhães (César Borges) contra o outro candidato (João). Nós resolvemos apoiar João . Não pedimos cargos. Pedimos que incorporasse no seu programa questões que considerávamos essenciais como orçamento participativo, prioridade na saúde, transparência. Ele concordou. Depois de eleito ele nos colocou na saúde – que eu não tenho nenhum medo de fazer debate da gestão do secretário Luiz Eugênio –, onde tivemos grandes avanços. Mas ele foi apanhado pela crise econômica que a prefeitura viveu depois da eleição de 2006. Marta (Rodrigues) fez o processo de orçamento participativo nas ARs e Gilmar (Santiago) iniciou uma política importante de reparação no Município. Num determinado momento, o PT entendeu que não iria mais caminhar com esse projeto e resolveu construir um projeto alternativo. Essa é a nossa diferença em relação a (ACM) Neto: Ele não só ajudou a eleger João como teve, sim, participação decisiva na gestão. Todo mundo sabe que o secretário de Serviços Públicos, Marcelo Abreu, foi indicação dele. Léo Prates era assessor especial do prefeito e a Saltur foi também do DEM. Isso o que é conhecido, pois existe muita gente lá que não é “mapeado”. Ele passou quatro anos na administração concordando com tudo isso e não pode dizer agora que não tem nada a ver com a situação.

O que o senhor faria de diferente do atual prefeito?
Ele teve altos e baixos. A descontinuidade administrativa o atrapalhou. Eu enfrentaria os problemas estruturais da cidade, como a questão do trânsito, a saúde que sempre teve as piores coberturas do País, na educação há dificuldades, embora reconheço que houve alguns avanços. Salvador precisa melhorar sua capacidade de autofinanciamento. Recuperar a capacidade de endividamento do município e de pagamento. Isso permitiria fazer investimentos estratégicos na cidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário