segunda-feira, 18 de junho de 2012

PT elege o DEM como alvo principal

Tribuna da Bahia - Osvaldo Lyra EDITOR DE POLÍTICA
 
O presidente da executiva estadual do PT, Jonas
Paulo, resolveu anunciar que o candidato do Democratas, ACM Neto, será o principal alvo dos petistas na eleição em Salvador. Em entrevista à Tribuna, o dirigente petista diz que vão insistir até o último minuto para atrair os partidos da base para a candidatura de Nelson Pelegrino e nega ainda o risco de estremecimento com os aliados, devido haver reciprocidade na troca de apoios no interior do Estado.

Além de admitir que a greve dos professores da rede estadual pode trazer prejuízos na próxima eleição, pois já traz à imagem do governador Jaques Wagner, o dirigente dispara que mesmo com o provável apoio do prefeito João Henrique (PP) à chapa petista, caberá a ele e a seus apoiadores defenderem a atual gestão
Tribuna da Bahia – A gente está na reta final de negociações. O que está dificultando o anúncio de apoios de peso à candidatura de Nelson Pelegrino?
Jonas Paulo – Primeiro nós estamos ultimando detalhes da composição. Uma composição de uma chapa vitoriosa, obviamente, tem muito mais detalhes do que o ultimato. Em relação à coligação proporcional, em relação à composição da chapa propriamente dita, em relação ao estabelecimento dos vínculos desses partidos com o projeto. E obviamente também há pleitos dos partidos em relação a cidades importantes em que os partidos têm presença. Não que seja um toma lá, dá cá, mas é que a ideia da contemplação dos interesses do conjunto das forças, afinal de contas, nós estamos numa coalizão. Nós temos uma coalizão que governa o Brasil, uma coalizão que governa a Bahia e um espírito para Salvador que também é de compor uma coalizão, então isso requer um pouco mais de cuidado, mais atenção, principalmente para que todos se sintam confortáveis nessa composição.
Tribuna – O que podemos falar de nomes, partidos...
Jonas – Nossa candidatura vai melhor, inclusive, do que nós esperávamos. Nós estamos fechando apoios importantes, costurando segmentos fundamentais na política baiana para fazer essa composição. Nós temos a mesma lógica da construção nacional e estadual. Então, para construir uma chapa, uma frente de centro-esquerda, pra de fato entrar nas eleições buscando decidi-la no primeiro ou no segundo turno. Então, nós estamos muito satisfeitos com as negociações.
Tribuna – O PCdoB, o PDT e o PTB ensaiam criar um “blocão”. Como o PT avalia essa movimentação?
Jonas – Todas as movimentações são legítimas, porque todos querem ser ouvidos, todos querem ser contemplados no processo. Mas eu quero dizer que nós estamos conversando tranquilamente com esses partidos. Sem nenhum percalço nas nossas conversas. Obviamente, os partidos legitimamente de forma autônoma afirmam o desejo de construir eles mesmos os seus espaços. Mas nós temos mantido conversas bastante proveitosas com todos. Não vejo o risco de estremecimento na nossa frente partidária inicialmente prevista, que é a contemplação da mais ampla participação das forças da base de Jaques Wagner na nossa candidatura em Salvador.
Tribuna – Há quem diga que interessa ao PT, ou a parte do partido, outra candidatura forte da base, justamente para contrabalancear uma candidatura do DEM e do PMDB...
Jonas – Não é essa a nossa compreensão. A nossa compreensão é que nos interessa a mais ampla unidade das forças políticas da base do governador Jaques Wagner, pois a eleição de Salvador para o PT é uma eleição nacional, uma eleição onde no nosso palanque estarão as figuras nacionais do PT, para nós fazermos uma disputa fundamentalmente com o DEM, que é a principal força de oposição na cidade. Nós temos a incumbência, nós estamos operando com a direção nacional, tal como em São Paulo, Salvador é prioridade absoluta nacional do PT e é com essa lógica que nós vamos disputar.
Tribuna – A tentativa de hegemonia do PT, que tem incomodado os partidos da base, pode dificultar uma aliança no segundo turno?
Jonas – Não. Nas reuniões do conselho político não é esse o sentimento que os partidos manifestam. Nós temos sido bastante criteriosos e tranquilos para contemplar os partidos onde eles são mais fortes que nós. Onde eles têm candidaturas mais competitivas do que nós. Onde eles têm maior capacidade de fazer a disputa do que nós, e posso citar diversos exemplos, já que estamos fazendo uma entrevista sobre a Bahia e não só sobre Salvador. Posso lhe dizer, por exemplo, que nós vamos apoiar o PDT em Paulo Afonso, nós não vamos ter candidato em Porto Seguro, em Eunápolis, nós estamos discutindo alianças em Barreiras, em Guanambi, estamos debatendo em Juazeiro. Então, isso mostra o quanto nós estamos abertos ao debate e à construção de perspectivas em que os partidos aliados se fortaleçam nas principais cidades da Bahia. Onde o PT apresenta melhores índices, nós reivindicamos liderar a coligação. E onde nós não temos o nome mais forte, nós buscamos construir com os aliados uma candidatura competitiva.
Tribuna – Acredita que o PT vai atuar até o último minuto para levar os aliados do “blocão” para a candidatura de Pelegrino?
Jonas – Não. Não é questão de não acreditar. Nós vamos trabalhar até o último momento para construirmos a unidade das forças da base do governo Jaques Wagner para disputar a eleição da capital, visto que a candidatura, a principal candidatura adversária é a candidatura da oposição nacional, portanto, da oposição ao nosso projeto vitorioso no Brasil, e a uma outra candidatura que também nos faz oposição no plano estadual. Então estamos enfrentando a oposição e só conhecemos um remédio para vencê-la, o mesmo que nós usamos em 2006 e usamos em 2010: a nossa unidade.
Tribuna – As negociações com o PR como andam?
Jonas – O PR ele veio de forma mais clara, o PR da Bahia conseguiu conosco ajustar a sua integração ao processo, junto com o governo federal e o governo estadual e, portanto, há um clima de diálogo, obviamente respeitadas as especificidades desse partido. Mas onde nós temos condições de dialogar como PR nas eleições, nós estamos dialogando. Por exemplo, em Casa Nova. Então, onde as condições criadas para favorecer a aliança com o PR, nós iremos fazer a aliança com o PR.
Tribuna – O PTN e o PSC?
Jonas – Dos partidos que não compõem formalmente, o PSC está em processo avançado de integração à base. Os partidos que se integram à nossa base, nós dialogamos de igual a igual, sem nenhum problema, e, os que não estão, nós dialogamos nas especificidades de cada partido. Então, portanto, obviamente nós não queremos aglutinar somente a base, nós queremos aglutinar todos aqueles que querem construir conosco uma nova perspectiva para Salvador.
Tribuna – Há alguma expectativa de atrair o PTN para a base?
Jonas – Nós estamos buscando para nossa candidatura atrair todos aqueles que não querem que, a partir de Salvador, se construa um caminho para voltar ao passado. Todos aqueles que sinceramente acharem que nós deveríamos continuar essa trajetória de mudança e não voltarmos a um tempo de autoritarismo, de perseguição, também, em certa medida, de subjugar os interesses da população, da cidadania, de construir apartheid social como havia em Salvador. Todos aqueles que não querem a volta ao passado e querem construir conosco essa perspectiva nova. Mesmo aqueles que não possuem identidade profunda com o nosso projeto, mas que queiram se somar a esse esforço.
Tribuna – Como o PT vê a aliança do PV, um aliado histórico, com o DEM?
Jonas – O PV teve candidato a governador da Bahia em 2010 e foi uma candidatura mais hostil a nós e ao nosso projeto do que qualquer outra.
Tribuna – Como o senhor observa essa tentativa do DEM de entrar numa área (movimentos sociais) que sempre foi muito próxima do PT?
Jonas – O Democratas tem história, a Bahia conhece. Aliás, conhece inclusive o nome da família que expressa o poder oligárquico que esse projeto significa. Aí não passa de uma tentativa de voltar ao passado, tentando, obviamente, usar espaços que a política oferece, mas acho que não vejo (interferência). Salvador está claramente colocada no desafio de seguir a mudança na Bahia e no Brasil e trazê-la de forma mais acentuada ou com maior identidade com o presidente Lula, a presidenta Dilma ou com o governador Wagner para governar a capital, do que voltar ao passado que a Bahia conhece, que a Bahia derrotou.
Tribuna – O PMDB, na análise de vocês, vai sustentar a candidatura de Mário Kertész?
Jonas – O PMDB tem buscado construir na Bahia um caminho próprio e não tem sido bem-sucedido. O PMDB tem sido nosso maior parceiro, nosso grande aliado nacional. Na Bahia tem buscado seu caminho próprio e não tem sido bem-sucedido. Mas isso é uma questão que compete, obviamente e legitimamente, ao PMDB avaliar.
Tribuna – O PSD, de Otto, tem hoje a mesma importância que o PCdoB tinha até pouco tempo para o PT?
Jonas – Não. O PCdoB continua sendo nosso aliado estratégico. O PCdoB é nosso aliado das lutas sociais. O PCdoB é o nosso parceiro de sonhos. Continuamos trabalhando juntos, articulando juntos, discutindo juntos. O PCdoB tem legitimidade de buscar construir suas próprias movimentações, mas sempre atento ao diálogo conosco. O PCdoB, numa eleição de dois turnos, quer abrir um debate, o faz com legitimidade. Eles acham que podem fazer uma ação no primeiro turno, mas nós temos discutido isso de uma forma muito fraterna. Nossas diferenças não são divergências de fundo, de estratégia. São diferenças da movimentação tática, mas nós achamos que o PCdoB continua e sempre foi o nosso grande aliado, o nosso aliado da primeira hora.
Tribuna – O PSB e a senadora Lídice da Mata? Como está o entendimento com eles?
Jonas – O PSB, nós temos conversado bastante. O PT tem sido um grande parceiro do PSB. Nós trabalhamos a candidatura ao Senado de Lídice da Mata como uma campanha que trouxe para nós um orgulho muito grande. Com muita unidade e afinidade política, com muito respeito à autonomia de cada um, mas com a consciência de que o PSB é um partido fundamental. É um partido que, junto conosco, vem derrotando as oligarquias tradicionais no Nordeste, que mudou a face da região junto com o PT e com outras forças. Portanto, estamos trabalhando para que essa aliança aconteça aqui novamente.
Tribuna – Qual o indicativo do vice de Pelegrino? Qual será o critério da escolha do nome?
Jonas – O critério de vice sempre será algo em que os partidos da frente política discutem. Sempre será isso. E quem mais tem possibilidade de agregação eleitoral, política e social. Isso sempre foi critério para escolher vice, que é aquele que consolida a frente política constituída. Nós queremos construir uma frente de centro-esquerda. Agora vamos trabalhar com os aliados e buscar com eles qual o melhor nome, o que mais agrega e, logicamente, aquele que traz estabilidade política à frente. Será esse o perfil e a forma que vamos constituir a vice de Salvador.
Tribuna – O diálogo com o PDT está parado após a exigência da vice ou está avançado?
Jonas – O PDT é um partido fundamental, essencial. É um direito do PDT dizer como ele gostaria de participar do processo, e nós estamos atentos a essa manifestação do PDT. Agora, estamos de forma muito tranquila, costurando com o conjunto dos partidos onde o PDT tem papel importantíssimo, estamos costurando essa composição.
Tribuna – Por que o governador Jaques Wagner não conseguiu sentar ainda pra negociar e acabar com a greve dos professores?
Jonas – Olha, o partido se manifestou sempre a favor dos movimentos sociais. O PT nunca irá virar as costas para a luta social, para a luta sindical. Pelo contrário, é um elemento importante na vida do nosso partido. Estamos tendo um momento de impasse. Dissemos isso ao governo, estamos dizendo isso ao movimento, tentando encontrar o caminho do diálogo para que a gente possa solucionar essa questão. Ela já está trazendo prejuízos políticos ao conjunto dos entes envolvidos, governo, movimento sindical, partidos políticos, lideranças, estamos já conversando sobre isso, que começa a trazer prejuízos para o nosso projeto. Não a luta em si, o impasse é que traz. Então nós estamos buscando, nos esforçando para buscar um caminho, e o PT, o PSB, o PCdoB têm sido instrumentos dessa tentativa de estabelecer esse diálogo e resolver esse impasse.
Tribuna – A imagem do governador já foi prejudicada com a greve. Isso pode repercutir negativamente nas eleições tanto em Salvador quanto no interior?
Jonas – Sabemos que sim. Nós vivemos o movimento social, sindical. As pessoas que estão no movimento são militantes dos nossos partidos. Entendemos que nós estamos gastando as nossas energias hoje numa disputa que é importante para os trabalhadores, sem dúvida, como é importante para o governo a sua relação com seus funcionários. Nós estamos nesse aspecto tentando ajudar a conciliação, mas o que eu quero dizer é que a nossa agenda real, inclusive em Salvador, Feira e Itabuna, é de enfrentar o DEM. Nós temos que estar com as nossas energias voltadas para derrotar a direita. Isso que é fundamental. Essa questão dos trabalhadores, ela é importantíssima, nós estamos vendo com carinho, mas entendemos que o momento de nós buscarmos uma saída e a nossa prioridade nesse exato momento é conseguir uma saída que fortaleça o movimento social e garanta ao governo o seu papel democrático e resolva, pelo menos parcialmente, o problema dos professores, sem comprometer os investimentos e as prioridades das finanças públicas. Mas que nós possamos, nesse momento, focar as nossas energias nessa tarefa que é derrotar a direita.
Tribuna – Qual vai ser o discurso de Pelegrino durante a campanha? Vai ser de apenas colar na imagem do governador, da presidente ou de Lula?
Jonas – De fato, Salvador precisa se encontrar com seu povo. Não há dúvida. Nós estamos muito preocupados com a autoestima do soteropolitano e, portanto, há um sem número de políticas que precisam ser desenvolvidas, além dos grandes investimentos que estão previstos para a cidade, e os que estão acontecendo na cidade, como saneamento básico da Baía de Todos os Santos, a Via Expressa, o Metrô, Arena Fonte Nova. A questão que é uma das saídas para nós, é não tratar apenas de Salvador, mas atuar para integrar as políticas de desenvolvimento da região metropolitana, entendendo que hoje Salvador e a RMS é um espaço urbano contínuo. Então isso nós temos que fazer, então foi pensado isso, acho que o Governo do Estado tem um papel a cumprir, a partir dos seus órgãos de intervenção na região metropolitana e isso precisa ficar melhor azeitado, dentro de um planejamento, de uma visão, de uma nova estratégia de desenvolvimento para Salvador e acho que, para isso, Pelegrino está bem afiado na compressão que não vai apenas fazer uma apresentação dos projetos nacionais e estaduais e sim construir um novo projeto para a cidade.
Tribuna – Como é que vai ser o PT defender a gestão João Henrique na campanha, caso o prefeito declare apoio a Pelegrino?
Jonas – Nós sempre dissemos que o governo municipal tem legitimidade, tem direito pra ter o espaço próprio para defender o seu governo, o seu legado de oito anos. Nem todo governo é só de acertos e só de erros. De fato, nós achamos que precisamos ter um novo momento de governo de Salvador. Isso aí nós não temos dúvida. Um novo modo de governar a cidade. Sobre essa necessidade que a cidade exige, o novo momento. Mas entendemos que, se for vontade do governo municipal lançar uma candidatura, ele tem toda legitimidade para fazê-lo. Essa é a nossa compreensão. Não sendo, obviamente é uma equação de ver como o governo municipal pensa que vai ser feita a defesa do seu legado. E discutir isso com os parceiros, como o governo municipal vai fazer essa defesa.
Tribuna – E se a escolha for o PT?
Jonas – Logicamente, aqueles que conhecem a administração por dentro vão expor as razões dos atos que cometeram. Das ações que fizeram ou das que deixaram de fazer. Compete sempre aos atores que atuaram nessa cena falar sobre ela.
Colaboraram: Fernanda Chagas e Fernando Duarte

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