Das 27 farmácias consultadas, 20 já foram assaltadas, 11 somente neste ano e mais de uma vez
Bruno Wendel e Rafael Rodrigues - Correio da Bahia
Nada de Doril e Atroveran. As dores de cabeças em muitas
farmácias de Salvador não têm remédio. São os assaltos diários que põem em risco
não só os funcionários, bem como os clientes, boa parte deles idosos. Os relatos
são inúmeros e geralmente se repetem: dois homens entram e numa ação que dura em
média de cinco a dez minutos, fazem todos reféns antes de esvaziarem os caixas.
Apesar de o sindicato dos Proprietários Varejistas de Produtos
Farmacêuticos (Sincofarba) e as delegacias não disporem de dados sobre os
assaltos, o CORREIO percorreu três grandes avenidas e os números corroboram com
os relatos das vítimas. Das 27 farmácias consultadas, 20 já foram assaltadas, 11
somente neste ano e mais de uma vez.
Na Avenida Paulo VI, Pituba, das oito farmácias, sete já foram
roubadas. De acordo com moradores e comerciantes da região, a Pague Menos é a
preferida dos ladrões. Muitos acreditam que o motivo é a quantidade de
circulação de dinheiro porque o estabelecimento também recebe pagamentos de
contas de água, luz e telefone. “Sempre tem um carro-forte recolhendo dinheiro
aí.
Provavelmente, os bandidos sabem que o volume de dinheiro é
grande”, comenta uma cliente. Funcionários da farmácia confirmaram que a loja é
visada pelos ladrões. “Até agora só tivemos um assalto este ano, mas no ano
passado foram seis. Sempre agem em duplas, mas mesmo com as câmeras, chegam aqui
armados, usando capacetes de moto”, declara uma caixa. Há pouco mais de duas
semanas, dois ladrões renderam todos os cinco funcionários da Multimais. Eles
trancaram as vítimas numa sala e depois fugiram com dinheiro.
Medo
Vizinha à Avenida Paulo VI, a Avenida Manoel Dias da Silva é a segunda em assaltos apurada pela equipe do CORREIO. De 10 farmácias, sete foram roubadas. As duas lojas da Farmácia Santana tiveram os cofres esvaziados em seis meses. Em uma delas as ações são tão frequentes que uma funcionária contou que uma certa vez, ela tinha acabado de registrar uma queixa do roubo, quando cruzou com uma colega na porta da delegacia bastante assustada.
Vizinha à Avenida Paulo VI, a Avenida Manoel Dias da Silva é a segunda em assaltos apurada pela equipe do CORREIO. De 10 farmácias, sete foram roubadas. As duas lojas da Farmácia Santana tiveram os cofres esvaziados em seis meses. Em uma delas as ações são tão frequentes que uma funcionária contou que uma certa vez, ela tinha acabado de registrar uma queixa do roubo, quando cruzou com uma colega na porta da delegacia bastante assustada.
“Ela tinha acabado de ter uma arma apontada para a cabeça para
entregar todo o dinheiro do caixa. Era um rapaz, que aparentava ter menos que 18
anos”, conta. O dono da Farmácia Reobote, da Rede Boafarma, tem motivos de sobra
para bradar. Há cerca de 20 dias o estabelecimento sofreu o sétimo assalto em
cinco meses. “É uma vergonha. Não há policiamento e os bandidos se valem disso,
de facilidades”, irrita-se. Ainda neste ano, a farmácia foi alvo de
arrombamento. “Eles agiram na noite e levaram de tudo: medicamentos e dinheiro”,
completa.
Na Avenida Dorival Caymmi, a situação não foi diferente das
demais localidades. Seis das nove farmácias foram alvos de assalto. Em março
deste ano, clientes e funcionários da Drogaria Francelli, da Rede Med, foram
trancados no banheiro, enquanto três homens limpavam os caixas. A Farmácia
Popular teve o dinheiro levado mais de dez vezes.
Perfil
Conforme relato colhido pelo CORREIO com
funcionários que presenciaram a ação dos criminosos, em geral são homens,
vestidos de bermuda, camiseta e boné – usado geralmente para cobrir o rosto e
evitar a identificação das câmeras de segurança que ficam no alto. Agem em
duplas. Um fica do lado de fora, monitorando a passagem de policiais pela rua, e
o outro entra armado. Sempre intimidam os clientes e funcionários. Recolhem
dinheiro do caixa, carteiras e celulares de quem está no local e, as vezes,
buscam remédios que tem fácil circulação no câmbio negro. A ação não dura mais
que cinco minutos.
Ladrões buscam mais vulneráveis
Ladrões buscam mais vulneráveis
Algumas
redes de farmácias não se preocupam muito com a instalação de dispositivos de
segurança que atrapalhem a vida dos assaltantes, como câmeras, por exemplo. É o
caso dos associados à Rede Santana. Na que fica na Rua Sabino Silva, na Barra,
funcionários relatam que somente no ano passado, a loja sofreu mais de 50
assaltos. “Teve uma época que era sempre a mesma pessoa que vinha aqui, pegava o
dinheiro e ia embora. Já sabem que tem essa constância, não poderia haver
rondas?", indagou um dos presentes ao último roubo, que aconteceu no último dia
7.
Em outro estabelecimento da mesma rede, na Rua Marquês de
Caravelas, o gerente André dos Santos topou abrir o jogo. “Eles geralmente levam
anabolizante Durateston, o Viagra, o Cialis, mas são todos medicamentos que têm
seguro. A empresa não fica com prejuízo", ponderou.
No ano passado, a loja foi vítima de assaltos por mais de dez
vezes, assegura o gerente. Em outra farmácia na mesma rua, a presença de uma
câmara de segurança na entrada até assusta o criminoso mais titubeante. Mas não
impediu o o estabelecimento de ter sido assaltado ao menos duas vezes somente no
mês passado.
A gerente, que pediu para não ter a farmácia identificada pela
reportagem, confidenciou que a câmera escura presa no teto não está funcionando.
“É só para enganar. Não filma ninguém”, afirma. O coordenador do Serviço de
Inteligência da 14ª Delegacia Territorial (DT/Barra), o investigador Élson
Caldas, reclama da falta de colaboração dos proprietários dos estabelecimentos
assaltados para conseguir prender os criminosos. “A gente não tem bola de
cristal. Eles não prestam queixa, então a gente não tem como saber o que está
acontecendo. E os poucos que têm câmera de segurança, oferecem imagem de baixa
resolução. Não dá para identificar os criminosos”, pondera.
O investigador criticou ainda os empresários que, resguardados
pelo seguro aos bens roubados, não investem mais em segurança. “Para o dono o
patrimônio está assegurado, mas e a vida das pessoas que ficam nas mãos dos
assaltantes, que muitas vezes praticam os crimes sob efeito de drogas?”,
questiona.
Medo leva empresários ao silêncio
Medo leva empresários ao silêncio
O investigador Paulo Calmon, da 7ª Delegacia (Rio Vermelho), explica que os empresários preferem não buscar a polícia com medo de perderem clientes. “É o medo de cair na imprensa e os clientes deixarem de ir com medo de serem vítimas”, diz. Nem a polícia, nem o Sindicato dos Proprietários Varejistas de Produtos Farmacêuticos (Sincofarba) possui dados sobre a quantidade assaltos às cerca de 400 farmácias que existem em Salvador.
O proprietário da Farmácia Multimais, no Rio Vermelho, é uma
exceção. Ele prestou queixa do roubo e disponibilizou as imagens das câmaras de
segurança a imprensa para ajudar a prender os autores. “Para continuar aberto
24h tive que contratar um segurança”, ressalta.
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