segunda-feira, 4 de junho de 2012

Farmácias de três grandes vias são alvos constantes de ladrões armados

Das 27 farmácias consultadas, 20 já foram assaltadas, 11 somente neste ano e mais de uma vez


Bruno Wendel e Rafael Rodrigues - Correio da Bahia
 
Nada de Doril e Atroveran. As dores de cabeças em muitas farmácias de Salvador não têm remédio. São os assaltos diários que põem em risco não só os funcionários, bem como os clientes, boa parte deles idosos. Os relatos são inúmeros e geralmente se repetem: dois homens entram e numa ação que dura em média de cinco a dez minutos, fazem todos reféns antes de esvaziarem os caixas.
Apesar de o sindicato dos Proprietários Varejistas de Produtos Farmacêuticos (Sincofarba) e as delegacias não disporem de dados sobre os assaltos, o CORREIO percorreu três grandes avenidas e os números corroboram com os relatos das vítimas. Das 27 farmácias consultadas, 20 já foram assaltadas, 11 somente neste ano e mais de uma vez.
Na Avenida Paulo VI, Pituba, das oito farmácias, sete já foram roubadas. De acordo com moradores e comerciantes da região, a Pague Menos é a preferida dos ladrões. Muitos acreditam que o motivo é a quantidade de circulação de dinheiro porque o estabelecimento também recebe pagamentos de contas de água, luz e telefone. “Sempre tem um carro-forte recolhendo dinheiro aí.
Provavelmente, os bandidos sabem que o volume de dinheiro é grande”, comenta uma cliente. Funcionários da farmácia confirmaram que a loja é visada pelos ladrões. “Até agora só tivemos um assalto este ano, mas no ano passado foram seis. Sempre agem em duplas, mas mesmo com as câmeras, chegam aqui armados, usando capacetes de moto”, declara uma caixa. Há pouco mais de duas semanas, dois ladrões renderam todos os cinco funcionários da Multimais. Eles trancaram as vítimas numa sala e depois fugiram com dinheiro.
Medo
Vizinha à Avenida Paulo VI, a Avenida Manoel Dias da Silva é a segunda em assaltos apurada pela equipe do CORREIO. De 10 farmácias, sete foram roubadas. As duas lojas da Farmácia Santana tiveram os cofres esvaziados em seis meses. Em uma delas as ações são tão frequentes que uma funcionária contou que uma certa vez, ela tinha acabado de registrar uma queixa do roubo, quando cruzou com uma colega na porta da delegacia bastante assustada.
“Ela tinha acabado de ter uma arma apontada para a cabeça para entregar todo o dinheiro do caixa. Era um rapaz, que aparentava ter menos que 18 anos”, conta. O dono da Farmácia Reobote, da Rede Boafarma, tem motivos de sobra para bradar. Há cerca de 20 dias o estabelecimento sofreu o sétimo assalto em cinco meses. “É uma vergonha. Não há policiamento e os bandidos se valem disso, de facilidades”, irrita-se. Ainda neste ano, a farmácia foi alvo de arrombamento. “Eles agiram na noite e levaram de tudo: medicamentos e dinheiro”, completa.
Na Avenida Dorival Caymmi, a situação não foi diferente das demais localidades. Seis das nove farmácias foram alvos de assalto. Em março deste ano, clientes e funcionários da Drogaria Francelli, da Rede Med, foram trancados no banheiro, enquanto três homens limpavam os caixas. A Farmácia Popular teve o dinheiro levado mais de dez vezes.
Perfil
Conforme relato colhido pelo CORREIO com funcionários que presenciaram a ação dos criminosos, em geral são homens, vestidos de bermuda, camiseta e boné – usado geralmente para cobrir o rosto e evitar a identificação das câmeras de segurança que ficam no alto. Agem em duplas. Um fica do lado de fora, monitorando a passagem de policiais pela rua, e o outro entra armado. Sempre intimidam os clientes e funcionários. Recolhem dinheiro do caixa, carteiras e celulares de quem está no local e, as vezes, buscam remédios que tem fácil circulação no câmbio negro. A ação não dura mais que cinco minutos.

Ladrões buscam mais vulneráveis
Algumas redes de farmácias não se preocupam muito com a instalação de dispositivos de segurança que atrapalhem a vida dos assaltantes, como câmeras, por exemplo. É o caso dos associados à Rede Santana. Na que fica na Rua Sabino Silva, na Barra, funcionários relatam que somente no ano passado, a loja sofreu mais de 50 assaltos. “Teve uma época que era sempre a mesma pessoa que vinha aqui, pegava o dinheiro e ia embora. Já sabem que tem essa constância, não poderia haver rondas?", indagou um dos presentes ao último roubo, que aconteceu no último dia 7.
Em outro estabelecimento da mesma rede, na Rua Marquês de Caravelas, o gerente André dos Santos topou abrir o jogo. “Eles geralmente levam anabolizante Durateston, o Viagra, o Cialis, mas são todos medicamentos que têm seguro. A empresa não fica com prejuízo", ponderou.
 
No ano passado, a loja foi vítima de assaltos por mais de dez vezes, assegura o gerente. Em outra farmácia na mesma rua, a presença de uma câmara de segurança na entrada até assusta o criminoso mais titubeante. Mas não impediu o o estabelecimento de ter sido assaltado ao menos duas vezes somente no mês passado.
A gerente, que pediu para não ter a farmácia identificada pela reportagem, confidenciou que a câmera escura presa no teto não está funcionando. “É só para enganar. Não filma ninguém”, afirma. O coordenador do Serviço de Inteligência da 14ª Delegacia Territorial (DT/Barra), o investigador Élson Caldas, reclama da falta de colaboração dos proprietários dos estabelecimentos assaltados para conseguir prender os criminosos. “A gente não tem bola de cristal. Eles não prestam queixa, então a gente não tem como saber o que está acontecendo. E os poucos que têm câmera de segurança, oferecem imagem de baixa resolução. Não dá para identificar os criminosos”, pondera.
O investigador criticou ainda os empresários que, resguardados pelo seguro aos bens roubados, não investem mais em segurança. “Para o dono o patrimônio está assegurado, mas e a vida das pessoas que ficam nas mãos dos assaltantes, que muitas vezes praticam os crimes sob efeito de drogas?”, questiona.

Medo leva empresários ao silêncio

O investigador Paulo Calmon, da 7ª Delegacia (Rio Vermelho), explica que os empresários preferem não buscar a polícia com medo de perderem clientes. “É o medo de cair na imprensa e os clientes deixarem de ir com medo de serem vítimas”, diz. Nem a polícia, nem o Sindicato dos Proprietários Varejistas de Produtos Farmacêuticos (Sincofarba) possui dados sobre a quantidade assaltos às cerca de 400 farmácias que existem em Salvador.
 
O proprietário da Farmácia Multimais, no Rio Vermelho, é uma exceção. Ele prestou queixa do roubo e disponibilizou as imagens das câmaras de segurança a imprensa para ajudar a prender os autores. “Para continuar aberto 24h tive que contratar um segurança”, ressalta.

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