segunda-feira, 4 de junho de 2012

Lídice nega pressão e empurra decisão sobre candidatura

Tribuna da Bahia - Osvaldo Lyra EDITOR DE POLÍTICA
 
A executiva nacional do PSB tem pressionado pela candidatura da senadora Lídice da Mata em Salvador. No entanto, ela, que preside o PSB na Bahia, embarcou na última sexta para os Estados Unidos numa missão oficial da CPI do Tráfico de Pessoas do Senado, sem nada decidir. Já conversou com o presidente nacional Eduardo Campos e com o governador Jaques Wagner, mas nada. Diz que depende agora das condições “que criemos para que isso (candidatura) possa se viabilizar”. Nessa entrevista à Tribuna, apesar de fazer mistério sobre o posicionamento da sigla, ela dá indicativos de que pode apoiar uma candidatura da base do governo, leia-se PT ou PCdoB. A socialista diz ainda que o apoio do prefeito João Henrique nessa eleição será negativo e que seu nome está no páreo pelo governo do estado em 2014.
Tribuna da Bahia – Senadora, já existe alguma definição se o PSB vai ter ou não vai ter candidatura própria em Salvador?
Lídice da Mata – O PSB hoje trabalha com a hipótese de ter a minha candidatura, mas, eu volto a dizer, com uma hipótese. A hipótese de ter candidatura própria ou compor junto com uma candidatura, discutindo com a direção nacional do partido, que nesse momento comanda as conversas políticas.
Tribuna – Já existiu algum contato da senhora com o presidente nacional Eduardo Campos. Há algum entendimento?
Lídice – Claro, claro. Eu tive uma conversa de mais de duas horas com o presidente do partido. Sobre a política nacional, sobre política regional, sobre a situação de Salvador, a situação do partido. Obviamente, foi até por isso que nós pensamos nessa alternativa de candidatura.
Tribuna – Houve então algum apelo para que a senhora encabeçasse um projeto de candidatura única?
Lídice – Não, não é um apelo. O presidente do partido não precisa me apelar. Ele tem uma possibilidade maior que essa, que é de discutir, do que me convencer de uma posição política, de fortalecimento do partido. Isso não quer dizer que seja a única alternativa, que o partido só possa fazer essa candidatura própria. A hipótese de uma candidatura foi colocada para que o partido nacional decida que caminho ele vai trilhar nessa eleição.
Tribuna – Qual é esse caminho? Qual o sentimento da senhora, senadora?
Lídice – Não é uma questão de sentimento. Eu acho que o partido, ao estar se colocando em diversas importantes cidades do país, como aliado, principalmente, do PT, ele tem a hipótese de analisar em ser candidato ou de apoiar candidaturas. E, se nós queremos o apoio de alguma força, temos que ter capacidade de analisar a hipótese de apoiá-las. Então, pra nós, não há uma posição que seja ‘ou somos nós candidatos ou nada’. Não é isso. Nós podemos ser candidatos ou podemos trabalhar a hipótese de apoiar a candidatura de Nelson (Pelegrino, do PT), a candidatura de Alice (Portugal, do PCdoB), ou a candidatura de alguém que esteja no nosso campo de alianças.
 
Tribuna – Qual seria o time para acontecer essa definição?
Lídice – O time seria definido pelo limite legal. Ou seja, nós temos até o dia 30 para tomar essa decisão, 30 de junho. Mas eu acredito que, antes disso, nós teremos uma possibilidade de avaliar o quadro político. Logo que eu chegar dos Estados Unidos, eu já estarei em condição de voltar a conversar com o partido nacional.
Tribuna – A senhora viaja então com um indicativo mais pra ter uma candidatura ou para fazer uma aliança?
Lídice – Nesse momento não. Não há nenhuma hipótese de uma coisa ou outra assim. Não é isso. O partido discutiu comigo a possibilidade da minha candidatura. Nós estamos, portanto, neste momento, analisando. É possível, no entanto, reavaliar isso
Tribuna – A senhora se coloca à disposição do partido...
Lídice – Depende das condições que criemos para que isso possa se viabilizar, de alianças possíveis, conjuntura política com que nós possamos encarar esse momento, ou, na verdade, como qualquer outro, eu creio que, no partido, nós desejamos o fortalecimento de nossa legenda com candidaturas de vereadores ou com candidatura de prefeito. Nem sempre ter uma candidatura a prefeito quer dizer que o partido cresceu, se fortaleceu. O partido pode sair de uma eleição derrotado, eventualmente, mas politicamente fortalecido. Ou vice-versa. Então, são essas as circunstâncias que nós vamos ter que analisar.
Tribuna – A senhora já teve alguma conversa recente com o governador Jaques Wagner sobre isso?
Lídice – Sim. Eu jamais tomaria qualquer decisão de anunciar uma posição eleitoral sem conversar com o governador, por quem tenho não só admiração, mas que reconheço como um líder do nosso projeto no estado da Bahia.
Tribuna – E em algum momento ele chegou a colocar a importância de unir a base dele em torno de Pelegrino?
Lídice – O governador colocou em todas as reuniões que tivemos, tanto pessoais, quanto coletivas, a importância de sua base sair unida. Não apenas em Salvador, mas em outras cidades importantes. É claro que essa análise já foi feita.
Tribuna – A senhora avalia o estremecimento entre o PT e o PCdoB? Seria fruto do calor pré-eleitoral ou devido à tensão gerada pela greve dos professores?
Lídice – Sinceramente, não tenho visto este estremecimento. Tenho estado com o presidente do PCdoB ( deputado Daniel Almeida), com a deputada Alice Portugal. Não tem estremecimento algum. Eles continuam sendo tratados com todo o respeito pelo governador Jaques Wagner. Não sei de onde viria essa ideia de estremecimento.
Tribuna – O deputado Capitão Tadeu tem se colocado à disposição do PSB, caso a senhora não seja alçada à condição de candidata. Ele poderia ser indicado como um vice, numa composição, por exemplo, com Alice Portugal?
Lídice – Não sei. Tudo isso depende da análise, entendeu? Tadeu é um deputado valoroso, coloca seu nome à disposição do partido, mas cabe ao partido analisar.
 
Tribuna – Como a senhora observa a fragmentação da oposição, com duas candidaturas colocadas até agora, do PMDB e do DEM? Isso facilita para a base do governo?
Lídice – Sim, sim. Claro. Eu acho que se a oposição estivesse unida, o governo buscaria também se unificar. Esse cenário de oposição unida, porque, afinal de contas, há uma oposição na Bahia, que não tem a mesma oposição em nível nacional. Ou seja, o PSDB e o DEM são partidos de oposição do atual governo da presidente Dilma. O PMDB não é um partido de oposição ao governo da presidente Dilma. E isso certamente faz com que haja dificuldades na formação de uma aliança sólida, por exemplo, para a prefeitura de Salvador.
 
Tribuna – A senhora acha que isso dá sinais de conforto então para que aconteça mais de duas candidaturas da base do governo Wagner, por exemplo...
Lídice – Creio que sim. Eu, na verdade, acho que nenhuma candidatura tem conforto. Nenhuma aliança numa eleição traz conforto. Toda eleição é tensa, é disputada. Em toda eleição há sempre uma série de imprevistos. Não é possível garantir hoje quem ganha uma eleição depois de amanhã. As análises técnicas de pesquisa, sejam quantitativas, sejam qualitativas, analisam situações, hipóteses, sinais. Mas na hora, quem decide é o povo. E isso está muito distante de termos qualquer tipo de certeza sobre qualquer candidatura. Acima de tudo, eu creio que as candidaturas do governo têm amplas possibilidades de saírem vitoriosas. O que não quer dizer que sejam.
Tribuna – Na avaliação da senhora, o que precisa mudar de mais imediato em Salvador?
Lídice – São tantas coisas. Nós temos hoje uma cidade profundamente entristecida. Eu tenho dito que Salvador precisa recuperar a sua capacidade de liderança sobre os negócios da cidade, sobre a ação pública da cidade e também a sua função de nortear, de dar limite. Eu acho que nós temos uma situação tão dramática na cidade hoje, que eu vejo, que nós estamos com uma crise de autoestima. Eu penso que a gente precisa, em Salvador, é recuperar a liderança de definição sobre os rumos da cidade. A autoridade sobre a cidade. A autoridade para gerir os espaços públicos e definir os limites também com relação aos espaços privados.
Tribuna – Qual será a maior dificuldade, na visão da senhora, do próximo prefeito que vier a assumir o comando de Salvador?
Lídice – Depende de quem seja o prefeito. Prefeito não é tudo igual. O prefeito que tenha um apoio do governo federal e do governo estadual terá um tipo de dificuldade. O prefeito que não tenha esse apoio terá outro tipo. Como eu disse, a cidade hoje se encontra numa crise profunda de identidade, uma crise profunda de autoridade sobre a cidade. Liderança sobre a cidade, para definir os seus rumos, definir o limite da atuação dos interesses privados. Colocar os interesses públicos acima dos interesses privados. Isso é a questão central, em todas as áreas. O povo já sabe. Isso pode ser visto tanto na área imobiliária, quanto no Carnaval. Tanto na área do trânsito, quanto no comando de uma política pública de educação ou de saúde.
Tribuna – A relação com a iniciativa privada então, a senhora define que seja mais clara do que é hoje?
Lídice – Que seja transparente e, principalmente, que seja delimitado o espaço.
 
Tribuna – Que saia inclusive do limite das quatro paredes e que a prioridade do público seja colocada em prática...
Lídice – Eu digo isso com relação ao PDDU, eu digo isso em relação, eu volto a dizer, às questões do comando do Carnaval. A devolução do Carnaval pro povo de Salvador, não é que o povo não participe, mas um modelo em que ele possa ampliar a sua participação. E assim por diante.
 
Tribuna – O apoio do prefeito João Henrique nessa fase vai ser mais positiva ou mais negativa?
Lídice – Aí depende da avaliação de qualquer um. Na minha opinião, no meu modo de entender, será negativa. Porque eu acho que a política exige de cada um de nós uma função didática. Nós saímos de um governo de João Henrique com diversas questões, entre elas o nosso entendimento, no caso do PSB, de que ele havia se distanciado dos compromissos que ele havia assumido no início de seu governo. Isso está expresso, por exemplo, no slogan essencial de sua candidatura, que foi “Prefeitura de participação popular”, e a mudança clara desse slogan e dos rumos do seu governo. Eu não posso, simplesmente, querer que o prefeito João Henrique me apoie se eu rompi com ele. Eu acho que o povo espera de nós uma posição de coerência, então, se eu terei o apoio do prefeito, mesmo se eu quisesse, eu teria que explicar para a população por que, para que ficasse claro para a população que tipo de acordo é que está sendo feito. Em que base esses acordos são feitos. Senão acaba ficando uma ideia de que é tudo igual, não tem diferenciação. E não é. Se nós queremos ter uma candidatura que tem um projeto crítico com relação ao projeto que aí está, então eles são diferentes.
Tribuna – Como é que a senhora avalia os desgastes que o governo Wagner tem passado nos últimos dias?
Lídice – Eu não entendo. Muita gente diz que é porque tem greve. Eu não conheço nenhum governo do Brasil que não enfrente greve. O governador enfrentou uma greve da Polícia Militar que não foi só na Bahia. Começou no Maranhão, depois foi pro Ceará, depois foi pra Sergipe, depois chegou na Bahia e depois chegou no Rio de Janeiro, num movimento nacional. O governador está enfrentando um momento de dificuldade enorme com o movimento de professores que também foi um movimento nacional. Existiu esse movimento em diversos estados brasileiros. Eu tenho total solidariedade às reivindicações dos professores, mas como também tenho solidariedade ao governo, porque sei dos limites que o governo tem para viabilizar essas reivindicações. Eu lamento muito que nós tenhamos chegado a um impasse. E acho que o impasse só pode ser desfeito se há concessão dos dois lados. Não pode haver uma concessão só do lado do governo. Então é preciso que os dois movimentos possam encontrar a saída para esse momento. Eu não vejo como se fazer governo sem haver a possibilidade de enfrentar uma greve, por exemplo. Greve é fruto da existência da democracia no país.
Tribuna – Essa questão das greves, a seca, isso pode impactar negativamente para os candidatos do governador nessa campanha? A senhora acredita que isso pode acontecer?
Lídice – Eu acho que pode, como também não pode. A seca não depende do governador. A seca depende do tempo, de chover ou não chover. Eu sou testemunha do quanto o governador tem trabalhado nessa questão de dotar a Bahia de sistemas de abastecimentos de água. Tanto que nós temos um programa, o Água para Todos, que está sendo, digamos assim, entre aspas, positivamente copiado pelo governo federal.
Tribuna – Pra finalizar, eu sei que 2012 nem passou ainda, mas o nome da senhora está no páreo para 2014?
Lídice – Acho que sim. Acho que 2014, a própria construção de 2012, da unidade de 2012, desse campo liderado pelo governador Jaques Wagner cria o momento para que a gente possa ter uma renovação da política no estado e nomes importantes de todos os partidos ficarão colocados. E creio que o PSB, sem dúvida nenhuma, pode dispor do meu nome para esse debate.
Colaboraram: Fernanda Chagas e Fernando Duarte

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