quarta-feira, 27 de junho de 2012

Tradição de desfile do 2 de Julho está ameaçada

Tribuna da Bahia - Daniela Pereira e Roberta Cerqueira REPÓRTERES
 
"Do jeito que as coisas estão caminhando, a festa da Independência da Bahia está com os dias contados”, desabafa a presidente do Instituto Geográfico e Histórico (IGBH), Consuelo Ponde. A historiadora critica a retirada dos cavalos do desfile cívico, uma briga antiga encabeçada por ambientalistas e órgãos em defesa dos animais.

“Os cavalos não vão morrer por andar seis quilômetros, eles fazem isso desde que eu era criança e nunca vi nenhum bicho morrer”, dispara. A estudiosa lembra da importância histórica dos animais na festa. “Eles representam um batalhão de 40 vaqueiros que se juntaram aos outros soldados e lutaram pela independência da Bahia”, destaca.

O batalhão fora organizado por um padre que também era lembrado no desfile. “Hoje este padre está esquecido, logo não teremos os cavalos o que mais vai restar desta festa?”, questiona. A advogada Ana Rita Tavares, diretora da ONG Terra Viva Verde, entrou com um pedido no Ministério Público, a fim de impedir que os cavaleiros do grupo Encourados do Pedrão, puxem o cortejo, como fazem há mais de 180 anos.

O pedido se baseia no documentário “Salva o Dois de Julho”, elaborado e distribuído pela própria defensora dos animais, que alega maus-tratos durante as comemorações e contesta a participação dos bichos nas lutas da Independência da Bahia.

No ano passado, a ONG Terra Viva Verde tentou, sem êxito, impedir que os cavalos participassem do evento. Entretanto, a iniciativa já divide a opinião dos participantes da festa. Os Encourados não pretendem recuar e garantem que vão se apresentar montados, pois não faz sentido vaqueiro sem cavalo.

“Isso é tradição, é história. Não há maus-tratos nos nossos animais, eles são preparados para esse desfile, transportados em caminhões novos, descansam durante o percurso e depois têm água e comida”, disse Anderson Maia, coordenador do grupo.
IMPORTÂNCIA HISTÓRICA - Está quase tudo preparado para o desfile do 2 de Julho, que parte da Lapinha em direção ao Campo Grande. Repleto de símbolos e representações, que compreendem o processo de independência do Brasil, o festejo apresenta grande força histórica e cívica, pouco preservada pelos baianos da atualidade.

Diferente do que a maioria dos baianos costuma festejar, a comemoração do 2 de Julho é uma homenagem aos combatentes e celebração às tropas do Exército e da Marinha Brasileira que, através de muitas lutas, conseguiram separar o Brasil do domínio de Portugal, em 1823.
De acordo com o antropólogo Roberto Albergaria, o 2 de julho é uma data importante por ser mítica e trazer aos baianos uma ideia de liberdade. “Foi o dia em que o povo ganhou, mas não levou. De qualquer forma o importante não é a guerra e sim o mito”, explicou o antropólogo.
Características perdidas
Apesar da força da data, a maioria ainda não conhece a história baiana e a importância do fato para o País. “Às vezes me atrapalho se é a independência do Brasil, da Bahia ou Proclamação da República”, disse a adolescente, Marília Fernandes, estudante do 2º ano. “Não sei explicar direito, mas tem algo haver com a independência”, afirmou outro estudante.
Segundo Albergaria com o passar dos anos, as mudanças no desfile Dois de Julho, tornou-se notória, principalmente, após o ano 2000.

“Houve uma decadência muito grande a respeito do valor simbólico do desfile. Tudo isso porque vivemos em um mundo individualista, no qual as pessoas não se interessam em saber do passado. Todos querem viver novas tendências e a identidade baiana tornou-se secundária”, afirmou, ressaltando que em anos de eleições, como este, a situação fica mais grave.

“Tem mais político do que baiano”, brinca.
Já Consuelo Ponde garante que, devido a falta de conhecimento, a cada dia a festa tem enfraquecido e a presença do público diminuído. “Ninguém ama aquilo que não conhece. E preciso conhecer a história e a tradição para amá-las. As pessoas estão totalmente desinformadas e desinteressadas sobre nossas conquistas.

Ninguém mais quer saber quem foi Maria Quitéria, Joana Angélica ou qualquer outro combatente”, disse. A tradição do 2 de Julho começou em 1823 e o desfile, que marca a Independência do Brasil na Bahia, sairá da Lapinha em direção à Praça Municipal.

Um comentário:

  1. Esses movimentos de proteção aos animais deveriam visitar o campo do gado, fazer protesto em frente aos grandes abatedouros de frango, que matam milhares de pintos por dia...combater o tráfico de animais silvestres, combater o desmatamento e se preocupar em reflorestar áreas devastadas e quase inabitável pelos pássaros que são apreendidos, sem contar nos carroceiros que utilizam-se de animais muitas vezes visivelmente mau tratados e carregando peso superior as suas forças.
    Tentar barrar os encourados de pedrão nas vésperas da comemoração de 2 de julho, mais parece ser uma forma de chamar a atenção, pois os animais fazem parte da cultura e da festa...Gostaria de saber qual seria o mau trato que um animal deste sofre ? como foi constatado maus tratos ? quem avaliou a situação para chegar a tal conclusão ? o que é mau trato para estas ongs ?
    Fora este episódio de 2 de julho, onde essas ongs atuam.


    Aguardo uma posição

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