Biaggio Talento, da Agência A TARDE
Um dos juristas mais respeitados do Brasil, Edvaldo Brito já foi prefeito
nomeado de Salvador, entre 1978 e 79. Atual vice-prefeito da capital baiana,
quer ser o titular da cadeira, segundo diz, para fazer o que não conseguiu
realizar na administração de João Henrique.
A TARDE - A candidatura do senhor a prefeito vai até o
fim?
Edvaldo Brito - Estou na campanha eleitoral de 2012 por um
imperativo do eleitorado de Salvador. Uma pessoa que teve 203 mil votos numa
cidade, sem campanha para senador, contra tudo e contra todos não pode desprezar
um patrimônio eleitoral desse porte. Tenho o dever de postular (a
candidatura).
AT - Mas a política é uma roda gigante, depende de muitos
fatores para ser candidato...
EB - O que há nesse momento: o PTB foi o primeiro partido
a indicar o pré-candidato, em 13 de janeiro de 2011. Talvez seja por isso que
ficou muito distante da memória das pessoas. O partido, não a candidatura, o
diretório municipal, a quem compete isso, insiste na candidatura, o presidente
licenciado (deputado Antonio Brito) continua conversando com todas as forças
políticas (sobre o assunto). Em 2008 fomos chamados para nos associar ao projeto
do PMDB num momento em que o candidato daquele partido (João Henrique) tinha 67%
de rejeição e 7% apenas de aprovação. O candidato que desponta agora, ACM Neto
do DEM, estava na frente em 2008. Nem foi para o segundo turno. Então, tendo o
PTB mantido minha candidatura e negociando com todos, não tenho eu legitimidade
ou direito para retirá-la.
AT - Mas isso pode mudar?
EB - Veja, não sou um “aureolado”. Se o PTB chegar e
disser que eu estou entre os 34 postulantes do partido para a eleição de
vereador, não posso fazer nada. Ai só tenho dois caminhos: me empavonar e dizer
‘não vou ser vereador’ ou o partido pode me dizer: ‘você não pode ser candidato
a prefeito porque os outros partidos não fecharam com a gente’. Se eu não
obedecer, nessas duas hipóteses, seria desobediência partidária. Ora, tenho 27
anos no PTB, não posso chegar agora e partir para uma carreira solo. Então, não
afasto de mim qualquer possibilidade dentro desse arco complexo que é a
política.
AT - O PTB tem pouco tempo para decidir. Quando é a
convenção que definirá oficialmente a candidatura?
EB - No dia 26 de junho. Empurramos para o fim do mês
exatamente por isso. Não podemos ter um choque com a base à toa. Sou candidato
desde o dia 13 de janeiro, mas é preciso ver o que vai acontecer, a política é
esse mundo complexo.
AT - O senhor acha que tem 80% de chances de ser candidato
a prefeito?
EB - Sim. A estrutura da campanha está toda pronta porque
nós temos responsabilidade com o partido. Agora política é negociação. Qualquer
candidatura posta pode chegar até o final ou compor uma vice.
AT - Legalmente é possível após uma candidatura ser
homologada haver uma mudança e o candidato a prefeito ser vice em outra
chapa?
EB - Certamente. Basta constar na convenção a autorização
(e todos autorizam) que os órgãos de execução do partido estão autorizados pela
convenção a manter candidaturas, transformá-las, entrar em coligação. Razão pela
qual, estrategicamente, colocamos nossa convenção para o fim do mês. O fato é
que disputarei essa eleição de qualquer maneira. O povo decidirá. Se o norte for
para que eu não seja candidato a prefeito, mas que eu continue no processo,
serei candidato a vereador.
AT - Então ainda existem muitas tratativas?
EB - É claro. O PTB faz parte da base do governo Dilma e
do governo Wagner. Além disso faz parte de um bloco partidário que envolve o PSB
e PCdoB, que tem pré-candidaturas cogitadas a prefeito. Portanto, é difícil você
despregar essa coisa nacional e estadual para um plano municipal assim, à toa.
Não se pode sair nesse caso para uma carreira solo pois senão se toma chumbo de
todo o lado. É preciso lembrar que esses 34 candidatos a vereador do PTB
participaram das discussões de um plano de governo em cinco seminários
realizados esse ano. Quero discutir isso com os pré-candidatos a prefeito, pois
tenho sentido falta de programas. E o problema consiste em algumas perguntas
básicas: o que vai fazer, com o que vai fazer, com quem vai fazer. Isso precisa
ser colocado para a sociedade diante de uma cidade que está precisando de uma
gestão com choque de ordem. E ninguém pode me acusar de não ter advertido as
pessoas a todo o momento.
AT - O senhor é o único candidato que viu os problemas da
prefeitura de dentro e escutou as reclamações da população...
EB - E critiquei quando estava lá (na prefeitura). A
sociedade vai me fazer essa Justiça. Critiquei a ponto de ter me atritado com o
prefeito várias vezes. Eu levei mais tempo me atritando com o prefeito que
concordando com ele.
AT - O senhor se caracteriza como um candidato da oposição
ou da situação?
EB - Agora ficou difícil, porque quem é oposição a quê? A
oposição à gestão municipal está difícil. Se você olhar o arco de partidos que
está aí, vai contar nos dedos de uma mão quem não participou da gestão de João
Henrique. E aí até quem menos participou fui eu, no sentido que estou colocando,
ou seja o PTB não teve espaço que os outros tiveram. Hoje, abrem-se outros
espaços para a interferência do vice-prefeito, mas sempre foi nesse jogo de
vai-e-vem. Portanto, nenhum de nós pode dizer que dessa água não bebeu e que
desse pão não comeu. A campanha eleitoral não pode ser maniqueista, a favor ou
contra João Henrique. Essa campanha vai exigir de quem quer que seja, - e eu
estarei vigilante - programa. Repito: o que vai fazer, com o que vai fazer e com
quem vai fazer. Por enquanto estou cobrando a todos. Não vejo como vai ser a
oposição nem a João. nem ao governador Jaques Wagner, que também você conta de
dedo quem não foi lá. Até o PMDB foi.
AT - Qual o principal erro e o principal acerto do
prefeito João Henrique nesses oito anos, na opinião do senhor?
EB - Não seria um erro principal, mas alguns principais,
mas pra mim o maior equívoco dessa administração é não ter planejamento. Isso eu
tenho falado dentro e fora do governo, ao próprio prefeito, sem nenhum problema
de enfrentamento a ele, mas de colaboração. Tanto que levei 2008 preparando a
reforma da administração. Fiz com pessoas que o próprio João Henrique designou.
Conseguimos reduzir de 18 para 11 secretarias. Reduzimos sete cargos de
secretários, sete de sub, sete de chefe de gabinete sete vezes não sei quantos
assessores, sete o diabo que o carregue: cargos, telefone. Tudo isso a gente
cortou. Em fevereiro eu já tinha um cálculo de redução de R$ 33 milhões mensais
cortando tudo isso, terceirizados, aluguéis. Eu fui pessoalmente a cada lugar
onde tinha repartição e reloquei essas repartições e devolvi espaços. A
prefeitura me deu um telefone (celular) funcional que nunca usei. Vou devolver
no dia 31 de dezembro de 2012 intacto como veio. Pois se eu tinha proposto
acabar com isso, por que iria ter um telefone? Fizemos também a reestruturação
de pontos fundamentais para obter recursos, como a Procuradoria Fiscal, etc.
Isso tudo demonstra que eu tenho razão: faltou planejamento.
AT - Mesmo com essas reformas quais os erros cometidos
pela prefeitura para ter as contas de 2009 e 2010 rejeitadas pelo TCM?
EB - Repito. Falta de planejamento. Permanentemente a
prefeitura ficou no Calc (Cadastro Único de Convênio com a União) de devedores,
por questões que a atual gestão herdou de outras. Então é o mesmo de uma canoa
que tem furos e você tapa com sabão. Logo depois continua a vazar. Ou seja, para
poder receber dinheiro federal, tem que aportar alguma coisa sua (nos
convênios). Mas aportar como se você não tem recursos? Nem para obter
empréstimos bancários? Acho, inclusive, que do ponto de vista jurídico o Calc é
um absurdo, porque ali você pode colocar a empresa privada que vive de lucro e
da especulação, mas o próprio poder público estar ali é absurdo. Como deixar o
interesse público submetido a um débito às vezes de pequena monta, que impede a
captação de financiamentos?
AT - E a melhor qualidade do prefeito?
EB - Ser um homem agregador. Veja que, apesar dessas
inúmeras mudanças de secretários, ele não tem nenhum inimigo figadal,
permanente. Então creio que é um agregador, uma pessoa afável.
AT - Mas o senhor terá um grande desafio, de se apresentar
ao eleitor como o gestor que não vai dar continuidade a essa gestão que está com
alto índice de rejeição. Como passar um discurso de inovação tendo participado
dessa administração.
EB - Eu disse várias vezes que estava na administração,
mas não administrava, que a caneta não era minha. Acabei de demostrar que,
apesar de ter feito um esforço de planejamento em 2008/2009, na execução não fui
eu que fiz.
AT - Não é um desafio grande transmitir isso ao
eleitor?
EB - Nenhum. Só faço pegar as páginas que se dobraram e
pedir para o eleitor ir revendo essas páginas. E é por isso que eu tenho um
discurso novo para apresentar: eu quero fazer isso, que eu não consegui
fazer.
AT - A prefeitura é viável economicamente? Parece que sim,
já que o ex-secretário Joaquim Bahia deu uma ajeitada nas coisas...
EB - Pronto. Sua resposta já demonstra que é. Eu lhe dou
mais dados para ir para o debate. A prefeitura tem um orçamento de R$ 3 bilhões,
em números redondos. Esse valor nunca se realiza com integralidade. Joaquim
conseguiu em 2011, aproximar-se dessa questão. Já demonstra ser possível
realizar o orçamento. Segundo: eu posso pegar alguns elementos financeiros e
colocar para funcionar. Exemplo: tenho uma dívida ativa - que as pessoas tem com
a prefeitura a quem cabe cobrar judicialmente - que passa dos R$ 5 bilhões.
Portanto, equivale a dois orçamentos anuais. Só para se ter uma ideia de como é
possível cobrar isso lembro que conseguimos numa primeira investida nas Varas da
Fazenda, em 2010, R$ 11 milhões, num leilão que nós fizemos correndo. Imagine se
tudo que é necessário para isso fosse posto. Com isso se busca para os cofres
dos municípios sem ônus e ao mesmo tempo você consegue fazer justiça fiscal,
pois uns pagam seus tributos em dia, outros não e fica nessa chicana judicial
pois sabem que demora muito a cobrança.
AT - Pela sua capacidade o senhor acha que foi
subaproveitado na gestão de João? Na gestão do prefeito Celso Pitta (SP) o
senhor foi muito mais usado...
EB - Isso é verdade. Eu era da Secretaria da Fazenda que
controlava toda a atividade de cobrança da dívida ativa e solução dos problemas
fiscais era todo sobre meu comando, isso numa prefeitura de São Paulo que
equivale a um pais.
AT - Professor, o senhor vai ter tempo de discutir todos
esses assuntos na campanha. Para encerrar, o senhor modificaria essa Louos que
está sendo contestada na Justiça?
EB - Se necessário. A cidade está crescendo sem
planejamento. Por exemplo, se libera várias construções em locais que não tem
infraestrutura para isso.
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