segunda-feira, 4 de junho de 2012

Pacientes sofrem com acesso ruim a grandes hospitais

George Brito - Jornal A Tarde
Pelas ruas Padre Feijó, no Canela, e Saldanha Marinho, na Caixa D’Água, Valdelice dos Santos Silva, 55, e Valtermira Souza dos Santos, 85, enfrentam ladeiras acentuadas para chegar, respectivamente, ao Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes) e ao Hospital Ana Nery. Elas são vítimas de um erro histórico de urbanismo, porém agravado pela negligência do poder público em superá-lo ou minimizá-lo.
Localizadas equivocadamente no meio de ladeiras íngremes, exigindo esforço de pessoas com a saúde debilitada, muitas delas idosas, as unidades de saúde estão distantes de pontos de ônibus. “Olha só como estou cansada. É horrível ter de andar tanto, descer e subir ladeira para pegar o transporte”, lamentava Valtermira, no último dia 30, após deixar o Hospital Ana Nery, onde realizou uma radiografia do crânio. “Ando esquecendo as coisas”, explicou, retomando o fôlego.
Algumas horas antes, Valdelice andava vagarosamente, de muletas, pela Rua Padre Feijó. Acabara de sair do Ambulatório Magalhães Neto, no Hupes, onde fez um exame de sangue e tentou, sem sucesso, realizar um ultrassom – suspenso na unidade. “Sinto dificuldade de locomoção. Tive uma doença que os médicos disseram ser uma variação do lúpus (moléstia rara provocada por desequilíbrio do sistema imunológico)”, contou. “Agora, vou ter de subir a ladeira para pegar o ônibus lá em cima (em frente à Reitoria da Universidade Federal da Bahia)”, reclamou.
Indignação - O quadro indigna o chefe do serviço de gastro-hepatologia do Hupes, Raymundo Paraná, que enviou carta ao A TARDE denunciando a permanência do problema: “O que vemos é um escárnio. Pacientes ortopédicos, cardiopatas, com doenças hepáticas e sequelas neurológicas sobem e descem a ladeira para ter acesso a uma simples consulta”.
No Ana Nery, a situação obriga pacientes a pegarem táxis até os pontos. O “escárnio” afeta também quem precisa se dirigir ao Laboratório Central Professor Gonçalo Muniz (Lacen), localizado na Rua Waldemar Falcão, em Brotas. Existe apenas uma linha de ônibus convencional que dá acesso à unidade. “Aqui só passa Ribeira, e a cada uma hora. Temos de vir andando”, reclamou a auxiliar de disciplina Vilma Maria de Oliveira, 54.
A caminhada é longa e exaustiva, por ladeiras e escadarias, partindo da Avenida Vasco da Gama ou da Av. Juracy Magalhães. “Não tem ponto de ônibus. O Lacen é mal localizado. Um posto que faz tudo”, engrossou a queixa a aposentada Edna Souza Pereira, 66, que foi buscar resultado de exame de sangue. Diante da insuficiência de transporte, ela preferiu ir andando, do bairro de Santa Cruz.
Sem respostas - A princípio, soluções simples resolveriam o problema, a exemplo da instalação de pontos de ônibus em frente às três unidades de saúde. “Bastava fazer um ponto de ônibus na área recuada do Centro Pediátrico Hosannah de Oliveira”, sugere Paraná, sobre o hospital universitário.
A TARDE enviou e-mail à prefeitura detalhando o problema das três unidades. A Superintendência de Transporte (Transalvador) não respondeu aos questionamentos. Diretores das unidades também não se posicionaram

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