Com filhos sem aulas por conta da greve de professores, que já dura 64 dias, pais de alunos da rede estadual procuram escolas particulares em busca de vagas, mas esbarram justamente no déficit de dias letivos. Categoria faz nova assembleia hoje
Bruno Wendel - Correio da Bahia
Com o coração em ruínas, Graça Schettini, 50, tem sofrido e
chorado dia e noite. Está desesperada diante das inúmeras tentativas frustradas
para que filha Briane, 16 anos, retorne aos estudos.
A jovem é aluna do Colégio Estadual Thales de Azevedo, no
Stiep, e nunca repetiu de ano, mas está há mais de dois meses sem aula por causa
da greve dos professores. Para evitar que, em função da paralisação, a filha
repita o 2º ano, Graça resolveu recorrer a várias escolas particulares. No
entanto, em todas a resposta foi a mesma: ainda que ela conseguisse pagar a
mensalidade, a filha não teria como acompanhar o ano letivo.
Graça não é a única. Várias escolas particulares confirmaram
ao CORREIO que têm recebido pais de alunos da rede estadual. No Colégio Análise,
no Bonfim, mais de 50 pais quiseram matricular os filhos. “Eu tenho deixado
claro para os pais que não tenho condições de suplantar a carência que esses
meninos tiveram. Como trabalhar com curto espaço de tempo? Não surtiria efeito
para alunos com nossa proposta de escola”, diz Fátima Franco, diretora
pedagógica do colégio Análise.
Cerca de 50 pais também procuraram o Colégio Oficina, na
Pituba. “Foi uma boa procura, mas não disponibilizamos vagas porque estamos em
um período bem adiantado”, explicou Fabiana Barreto, da secretaria da escola.
No Colégio Resgate, no Cabula, funcionários informaram que 100
alunos procuraram a escola. Empregados dos colégios Rio Branco e Nossa Senhora
da Soledade também confirmaram a procura, mas não disseram a quantidade de pais
que os procuraram.
Drama
“Olho em volta e penso nas coisas que eram para estar acontecendo e não estão. Já usei todas as minhas armas. Não sei mais o que fazer. Isso dói tanto!”, desabafa Graça, entre lágrimas.
“Olho em volta e penso nas coisas que eram para estar acontecendo e não estão. Já usei todas as minhas armas. Não sei mais o que fazer. Isso dói tanto!”, desabafa Graça, entre lágrimas.
Graça é assistente financeiro e ganha pouco mais de R$ 700 por
mês. Quando a greve foi iniciada, ela tinha a esperança de que rapidamente
governo e professores chegariam em um acordo. Mas o tempo foi passando e Briane,
uma aluna que nunca sequer fez recuperação, trocou os livros por horas e mais
horas de bate-papos na internet. Aflita, a mãe enviou e-mails contando o seu
drama. “Colégio Integral, Apoio, Gregor Mendel, São Lázaro, mas o único que
respondeu foi o Antônio Vieira”, conta.
No e-mail, a mãe implora por uma bolsa de estudos: “...Choro
dia e noite pq nunca pensei em vê-la (à filha) sem estudar por conta de falta de
condições financeiras e de um governo sem atitude”. Em resposta, a direção do
colégio informou que compreende a situação e os motivos do desespero, mas que
não há como matricular novos alunos nesta altura do ano.
Pais apelam a escolas privadas para que filhos não
percam ano
Estudo
Livros ainda com cheiro de novo empilhados no quarto. Das 200 folhas do caderno, pouco mais de dez com algumas anotações. Apesar de atualmente passar o maior tempo na internet, Briane não esconde a decepção por não estar numa sala de aula.
Livros ainda com cheiro de novo empilhados no quarto. Das 200 folhas do caderno, pouco mais de dez com algumas anotações. Apesar de atualmente passar o maior tempo na internet, Briane não esconde a decepção por não estar numa sala de aula.
A adolescente quer ser engenheira civil e pretende fazer
vestibular no ano que vem, mas acha que a chance é remota. “Até agora não vejo
como. Já estamos muito prejudicados no calendário escolar. Estou em casa sem
fazer nada”, reclama a estudante.
A estudante disse que sofre ao ver a mãe chorando pelos cantos. “Me acabo de chorar junto com ela. É muito triste. Minha mãe é uma guerreira e está fazendo de tudo por mim”, diz.
Agonia múltipla
A professora Denise Bonfim dos Santos, 34, e a filha Steffany, 14, colega de escola de Briane, vivem o mesmo drama. A mãe procurou várias escolas. “Rodei várias escolas, mas disseram que não tinham mais vagas porque já tinham fechado a primeira unidade e já estavam fechando a segunda”. Só ontem passou em dois colégios e nada. “Ela vai se prejudicar devido a um problema do governo do estado. Vai repetir o ensino médio sem necessidade”, diz, preocupada.
A estudante disse que sofre ao ver a mãe chorando pelos cantos. “Me acabo de chorar junto com ela. É muito triste. Minha mãe é uma guerreira e está fazendo de tudo por mim”, diz.
Agonia múltipla
A professora Denise Bonfim dos Santos, 34, e a filha Steffany, 14, colega de escola de Briane, vivem o mesmo drama. A mãe procurou várias escolas. “Rodei várias escolas, mas disseram que não tinham mais vagas porque já tinham fechado a primeira unidade e já estavam fechando a segunda”. Só ontem passou em dois colégios e nada. “Ela vai se prejudicar devido a um problema do governo do estado. Vai repetir o ensino médio sem necessidade”, diz, preocupada.
A também professora Gricélia Gomes de Matos, 36 anos, que dá
aula de Educação Física em uma escola de ensino básico, sabe bem o que
representa os alunos ficarem tanto tempo longe das salas de aula. “É um período
que não se recupera mais. Mesmo que reponha as aulas, não vai ter nem de longe a
qualidade que desejamos”, afirmou.
Ela é mãe de Perla de Matos, 16, que estuda no Colégio
Estadual Thales de Azevedo. Moradora de Cajazeiras, tentou matricular a filha em
dois colégios particulares, mas teve o pedido negado porque a filha não recebeu
nenhuma nota na primeira unidade do ano. “Não aguento mais esse negócio dessa
greve. A gente fica de mãos atadas sem saber o que fazer”, resignou-se.
Aulas vão até janeiro
As aulas seguem até janeiro para pelo menos 518 escolas da rede estadual. A avaliação da Secretaria Estadual de Educação (SEC) leva em conta os colégios que estão em greve há mais de 20 dias. “Mas isso não descarta as outras escolas. Cada diretoria regional fará um calendário de reposição dependendo de sua situação”, afirma a superintendente de Avaliação e Acompanhamento Escolar da SEC, Enir Bastos.
As aulas seguem até janeiro para pelo menos 518 escolas da rede estadual. A avaliação da Secretaria Estadual de Educação (SEC) leva em conta os colégios que estão em greve há mais de 20 dias. “Mas isso não descarta as outras escolas. Cada diretoria regional fará um calendário de reposição dependendo de sua situação”, afirma a superintendente de Avaliação e Acompanhamento Escolar da SEC, Enir Bastos.
Ela diz que há três possibilidades de repor as aulas: utilizar
os sábados, extinguir as férias de julho e usar o período de dezembro e janeiro.
De acordo com a SEC, das 1.412 escolas estaduais na Bahia, 542 (38%) ainda estão
em greve e 176 funcionam parcialmente (13%). Ao todo, 732 mil estudantes
continuam sem aula, o que corresponde a 66% de todos os alunos da rede. A greve
começou no dia 11 de abril e 45 dias letivos foram perdidos. A legislação obriga
o estado a cumprir, no mínimo, 800 horas de aula distribuídas em 200 dias.
Pais lutam sozinho
“Sejam bem-vindos à Bahia, o estado sem educação. Nossos filhos estão sem aula há mais de 60 dias”. O cartaz, exibido em quatro idiomas - português, inglês, francês e espanhol – no desembarque do Aeroporto Internacional Luis Eduardo Magalhães, é a nova forma de protesto da Associação de Mães e Pais de Alunos de Escolas Públicas da Bahia (Amap). O presidente da entidade, Antônio Moura, diz que o intuito é chamar a atenção do mundo para a greve dos professores. “O Ministério Público está assistindo a tudo inerte. Há agravantes demais e ele poderia entrar com uma ação. Está preferindo fazer vista grossa. Então, vamos recorrer a quem?”, reclama.
“Sejam bem-vindos à Bahia, o estado sem educação. Nossos filhos estão sem aula há mais de 60 dias”. O cartaz, exibido em quatro idiomas - português, inglês, francês e espanhol – no desembarque do Aeroporto Internacional Luis Eduardo Magalhães, é a nova forma de protesto da Associação de Mães e Pais de Alunos de Escolas Públicas da Bahia (Amap). O presidente da entidade, Antônio Moura, diz que o intuito é chamar a atenção do mundo para a greve dos professores. “O Ministério Público está assistindo a tudo inerte. Há agravantes demais e ele poderia entrar com uma ação. Está preferindo fazer vista grossa. Então, vamos recorrer a quem?”, reclama.
Nesta terça (12), às 9h, está prevista uma reunião do
Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB) na Assembleia.
Mas o presidente da categoria, Rui Oliveira, diz que não há indicativo de fim da
greve. “Toda semana fazemos uma assembleia. O governo nunca esteve presente.
Não posso dizer que amanhã (hoje) podemos terminar a greve.
Isso só será decidido lá”, diz. Se o impasse continuar, a Amap diz que entrará
com uma ação civil pública na Justiça. “Vamos protocolar o documento na
quarta-feira. Algo tem que ser feito já que estamos sozinhos”, diz Moura. Por
enquanto, a única ação em trâmite é a da Procuradoria-Geral do Estado (PGE), que
alega falta de comunicação prévia da paralisação por parte dos professores.
No dia 13 de abril, o juiz da 5ª Vara da Fazenda Pública de
Salvador, Ricardo D’Ávila, concedeu uma liminar declarando a ilegalidade da
greve e determinou multa diária de R$ 50 mil se a categoria não retornasse à
atividade. O MP informa que tem atuado extraoficialmente como mediador e não
ingressará com uma ação já que emitirá parecer caso a Justiça solicite no
processo movido pelo estado.
A assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça (TJ) diz que
não há prazo para que o caso seja julgado e que a lei diz apenas que qualquer
processo não pode ficar parado por mais de 90 dias. O Ministério da Educação
(MEC) entende que a negociação deve ser realizada sem interferência da União. O
Tribunal Regional do Trabalho (TRT) e a Superintendência Regional do Trabalho e
Emprego (SRTE) dizem que só cabe a eles mediar quando o caso envolve o setor
privado.
Com informações da repórter Florence Perez
Com informações da repórter Florence Perez
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